Jornal de Notícias

Adjudicaçõ­es à Ambigold, de Carlos Eduardo Reis, levaram PJ a esquema de empregos para “boys”

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buscas

foram realizadas pelas autoridade­s, em junho de 2018, visando instalaçõe­s do PSD e do PS, para além de câmaras municipais, juntas de freguesia, casas particular­es, escritório­s de advogados e ainda a sede da empresa Ambigold, em Barcelos.

Teia sob suspeita

Em causa estão suspeitas da existência de uma teia em que políticos e empresário­s beneficiav­am com a celebração de contratos públicos e atribuição de avenças por cargos nunca ocupados. Há suspeitas da prática de crimes de corrupção, tráfico de influência e participaç­ão económica em negócio.

Desagrado na PJ

A decisão do MP está a causar desagrado, tanto no seio da UPFC como na Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC), que continua a auxiliar o MP nas investigaç­ões.

Custos

O valor cobrado pelo perito independen­te não foi revelado pela PGR. O custo das perícias e exames financeiro­s e contabilís­ticos da unidade especializ­ada da Polícia Judiciária é de cerca de 70 euros por hora e está regulament­ado por lei.

A operação “Tutti Frutti” foi tornada pública em junho de 2018, quando mais de 150 inspetores da Polícia Judiciária (PJ) realizaram cerca de 70 buscas a partidos políticos, câmaras municipais, juntas de freguesias, empresas e residência­s. Em causa estavam suspeitas da existência de uma rede composta por elementos do PSD e do PS, envolvidos em adjudicaçõ­es a uma empresa de Barcelos, liderada pelo antigo conselheir­o nacional social democrata Carlos Eduardo Reis, mas também de avenças fictícias para manter salários a “boys” dos partidos.

Terá sido essa teia de empregos oferecidos a militantes do PSD, à custa do erário público, que levou a PJ a iniciar a investigaç­ão, alargando-a depois ao PS. Essa diversidad­e de suspeitas sobre várias cores partidária­s foi o mote para o nome “Tutti Frutti” dado à operação.

Em cima da mesa estão eventuais crimes de corrupção, de tráfico de influência e de participaç­ão económica em negócio, mas igualmente de financiame­nto partidário ilícito. A Distrital do PSD de Lisboa, onde funciona a sede nacional do partido, assim como a Concelhia de Lisboa do PS foram os alvos das buscas mais mediatizad­os, tal como a sede da empresa Ambigold, em Barcelos, de Carlos Eduardo Reis. Sérgio Azevedo, seu amigo e sócio numa empresa em Moçambique, também foi alvo de buscas domiciliár­ias.

Na altura, além de três escritório­s de advogados, casas e partidos, as buscas abrangeram, pelo menos, as câmaras de Barcelos, Esposende, Famalicão, Gaia, Feira, Póvoa do Lanhoso, Marinha Grande, Golegã, Cascais, Loures, Oeiras, Lisboa, Arruda

dos Vinhos, Faro e Ponta Delgada. E, só em Lisboa, houve buscas nas juntas de freguesia de Santo António, Areeiro, Estrela, Alvalade, Parque das Nações, Carnaxide, Penha de França e Benfica. Grande parte destas autarquias são ou eram geridas pelo PSD, à época dos contratos suspeitos, feitos por ajuste direto ou concurso. Mas também há casos no PS.

Nas buscas, as autoridade­s apreendera­m documentaç­ão sobre contas dos partidos e ficheiros de militantes, para além de contratos efetuados pelas autarquias. Toda a documentaç­ão, enviada para a Unidade de Perícia Financeira e Contabilís­tica da PJ, foi remetida há poucas semanas para o antigo diretor da Unidade, agora perito independen­te.

Ambigold sem prestar contas

A empresa de Carlos Eduardo Reis, a Ambigold (foto), foi alvo de um processo administra­tivo de dissolução depois de ter falhado a atempada apresentaç­ão de contas obrigatóri­a ao Registo Comercial, durante dois anos consecutiv­os. De acordo com o Portal da Justiça, a empresa e os seus credores foram notificada­s há um mês da falta de apresentaç­ão de contas de 2017 e 2018. Ou seja, depois de ser alvo de buscas. Entretanto, há cerca de uma semana, a Ambigold apresentou as contas de 2017, o que suspendeu o processo de dissolução.

Gabinete de André Ventura alvo de buscas

Antes de ter criado o partido Chega, quando ainda era vereador do PSD na Câmara de Loures, o gabinete de André Ventura na autarquia foi alvo de buscas na operação “Tutti Frutti”. Em causa estava a contrataçã­o de

um assessor de Ventura, por suspeita de se tratar de um cargo fictício, remunerado com dois mil euros por mês. Na altura, Ventura veio a público confirmar as buscas, garantindo ter prestado toda a colaboraçã­o

à Polícia Judiciária.

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