Jornal de Notícias

Jerónimo, o genuíno

- POR Rui Sá Engenheiro

Depois de ver os pequenos extratos que foram “notícia” (os dotes culinários e a exibição das famílias) a partir da participaç­ão de Assunção Cristas e António Costa no programa televisivo de Cristina Ferreira, numa reunião do organismo em que milito no PCP, desabafei, dizendo que esperava que Jerónimo de Sousa não participas­se nesse programa. A minha opinião não foi consensual, havendo camaradas que diziam que não se devia perder a oportunida­de de passar a mensagem para milhares de telespetad­ores e outros defendendo que não pode valer tudo

Esta semana, através das redes sociais, começaram a chegar-me ligações para um programa em que aparecia Jerónimo de Sousa e, quando as abri e o vi a ser recebido por Cristina Ferreira na sua “casa” tive um baque. E lá fiquei a ver se os meus receios se confirmava­m e se ia ver Jerónimo a cozinhar alguma coisa... Mas, felizmente, não. Presumo que deve ter imposto condições para participar no programa, tal como não cozinhar, não exibir a família (exceto em fotos e nas palavras). Do que resultou um programa com qualidade (que aconselho a procurarem na Internet e a verem sem preconceit­os), que, no fundo, foi uma entrevista/conversa onde Cristina Ferreira teve a capacidade de se limitar ao papel de “entrevista­dora”, lançando as questões e deixando a conversa fluir. Assistimos, assim, a uma conversa intimista, onde Jerónimo

se sentiu à vontade para revelar aspetos da sua vida, para muitos desconheci­dos, que nos deram conta do percurso ímpar de um homem invulgar. E sempre com a humildade de, contando a sua própria dura história da meninice e adolescênc­ia, referir ser essa a história de muitos outros “filhos dos homens que nunca foram meninos”. Ou contando, com inegável humor e simplicida­de, as estórias de um percurso político rico, onde conheceu muitos protagonis­tas e foi parte ativa ou espectador privilegia­do, e que lhe deram a capacidade de não se extasiar com as vitórias nem de se deixar abater com as derrotas. Mas o que mais impression­a, para além desta humildade, é a genuinidad­e de Jerónimo. Ouve-se o que diz, vê-se a expressão dos seus olhos e fica-se com a convicção de que ali não há encenação. Aquele é Jerónimo de Sousa. Com as suas virtudes e defeitos. Mas sem filtros.

Recordo, assim, as suas palavras aquando da sua primeira eleição para secretário-geral do PCP. Sentado na plateia, no meio dos seus camaradas, avisou que era como era e não iria mudar a sua maneira de ser. Ainda bem, porque apesar de ouvir gente a dizer “está velho”, a verdade é que Jerónimo tem um prestígio que prestigia o seu partido. O que se deve, em muito, ao facto de ser, nestes tempos de políticos de plástico, Jerónimo, o genuíno!...

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