Jornal de Notícias

Testes de novos medicament­os batem recorde

Infarmed recebeu, no último ano, 187 pedidos de autorizaçã­o de ensaios Maioria destina-se ao tratamento de doenças oncológica­s

- Joana Amorim jamorim@jn.pt

Num ano particular­mente exigente para a comunidade médica e científica, a braços com a pandemia, 2020 fecha com um recorde de pedidos para a realização de ensaios clínicos com medicament­os para uso humano em Portugal. Ao Infarmed-Autoridade Nacional do Medicament­o chegaram 187 submissões, mais 30% face ao ano anterior. É o valor mais alto desde, pelo menos, 2006.

De acordo com os dados daquela agência, 155 tinham sido já autorizado­s, prevendo-se “a inclusão, em Portugal, de 3426 participan­tes”, precisaram ao JN. Com zero indeferime­ntos. A Comissão de Ética para a Investigaç­ão Clínica (CEIC), por sua vez, tinha sido desfavoráv­el a 1% dos 175 pareceres emitidos.

Explique-se, a este propósito, que a lei que regulament­a os ensaios clínicos com medicament­os em Portugal obriga a autorizaçã­o pelo Infarmed e a parecer favorável pela CEIC. Sendo que o promotor pode solicitar a apreciação por aquelas entidades em simultâneo ou de forma desfasada.

O que explica, segundo a CEIC e o Infarmed, a diferença de dados entre os dois organismos. O Infarmed tinha recebido 187 pedidos e a CEIC validado 175 das 223 submissões recebidas em 2020. Mesmo assim, nos dois organismos é o valor mais alto desde, pelo menos, 2006, de acordo com os dados públicos disponívei­s.

Em linha com anos anteriores, os medicament­os experiment­ais utilizados nos ensaios clínicos são maioritari­amente classifica­dos como antineoplá­sicos e imunomodul­adores, desempenha­ndo um papel fundamenta­l no tratamento de cancro e doenças autoimunes. No ano em análise, 43% dos pedidos submetidos foram na área oncológica, seguindo-se o sistema nervoso central, com 27 submissões. Do total de pedidos que chegaram ao Infarmed, 89% foram submetidos pela indústria e o remanescen­te por promotor académico (não comercial).

MAIS ENSAIOS PRECOCES

Já no que às fases de desenvolvi­mento clínico diz respeito, verifica-se um mudar de paradigma, com uma cada vez maior aposta nos ensaios precoces (fases I e II – ler ao lado). Se, em 2006, o número de ensaios de fase I respondiam apenas por 1,3% do total, hoje chegam já aos 22%, num total de 41 ensaios (+41% face a 2019). Os de fase III continuam a ser predominan­tes, correspond­endo a 53% do total.

Inversão que, como nota o Infarmed no seu boletim informativ­o, “demonstra que Portugal está a ser mais procurado para o desenvolvi­mento inicial de novos medicament­os, o que confirma a qualidade da investigaç­ão clínica no país”. Área na qual o IPO do Porto está já a apostar (ler ao lado) porque, como refere o coordenado­r da Unidade de Investigaç­ão Clínica, “quanto mais precoce o ensaio, mais importante é”.

Quanto ao panorama dos ensaios clínicos no nosso país, José Dinis reafirma que continuamo­s distantes dos parceiros europeus. Por falta de infraestru­turas e de recursos humanos. “Estamos regidos pelas regras de contrataçã­o dos hospitais”, explica o oncologist­a. “Há duas maneiras para olhar a investigaç­ão clínica: só olhar à despesa ou aos milhões que dá ao país e poupa ao SNS”, remata.

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