Jornal de Notícias

Padre condenado após comprar carros com esmolas

Tribunal de Lisboa conclui que pároco transferiu verbas de igrejas e vendeu arte sacra para comprar 19 carros e outros bens pessoais

- Sofia Cristino justica@jn.pt

O padre António Teixeira foi condenado ontem pelo Tribunal de Lisboa numa pena de prisão de quatro anos e meio, mas suspensa, por ter vendido peças de arte sacra a antiquário­s sem o conhecimen­to da diocese de Santo Condestáve­l, em Lisboa, e ter desviado esmolas de fiéis para comprar 19 carros e custear outras despesas pessoais.

Condenado por um crime de furto qualificad­o e outro de abuso de confiança agravado, o pároco terá de indemnizar a igreja e comerciant­es de antiguidad­es no valor de 178 955 euros. A maior indemnizaç­ão, de 112 965 euros, será paga à Fábrica da Igreja Paroquial de Santo Condestáve­l.

Imagens de Santa Luzia, Nossa Senhora da Conceição e do Menino Jesus, castiçais, salvas de prata, um cálice cerimonial adornado com safiras, rubis e esmeraldas, entre outras imagens do século XVII, estão entre as mais de 20 peças da Igreja do Santo Condestáve­l, em Campo de Ourique, que António Teixeira vendeu a antiquário­s. “Não há qualquer dúvida de que as peças não pertenciam ao padre, mas à paróquia”, declarou o juiz-presidente do tribunal, Paulo Registo, na leitura da sentença, no Campus de Justiça.

“PERCURSO DE VIDA” ATENUA PENA

O arguido também fez chegar dezenas de milhares de euros às suas contas pessoais através de transferên­cias bancárias com origem nas contas das fábricas das igrejas do Santo Condestáve­l, em Lisboa, e Nossa Senhora dos Remédios, em Cascais, concluiu o tribunal, que “não encontrou justificaç­ão” para o padre manter 20 mil euros na sua conta, ou para efetuar transferên­cias de “30, 15, 22 e 25 mil euros”. “Houve uma apropriaçã­o destes montantes”, concluiu.

Acusado de quatro crimes, o arguido foi absolvido de um de abuso de confiança e outro de branqueame­nto de capitais. O coletivo de juízes entendeu que, na compra dos 19 automóveis, ao longo de seis anos, “não houve intenção de esconder o dinheiro”. Também não provou que o padre tenha angariado 149 850 euros de esmolas e donativos, na paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, e depositado tais quantias nas suas contas.

Na ponderação da pena, o Tribunal “teve em conta o percurso de vida e a conduta muito ativa e assertiva do arguido no sentido de resolver muitos problemas que afligem as paróquias, quer em atos de cariz mais social, como o apoio a toxicodepe­ndentes e a prostituta­s”. “O tribunal ouviu diversas testemunha­s que relataram a preocupaçã­o que o padre tinha com atividades ligadas à paróquia”, sustentou Paulo Registo.

O advogado de defesa, André Mendes, anunciou que vai recorrer da condenação do seu cliente.

 ??  ?? António Teixeira tem um histórico de apoio a cidadãos desfavorec­idos que lhe atenuou a pena
António Teixeira tem um histórico de apoio a cidadãos desfavorec­idos que lhe atenuou a pena

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal