IPO na linha da frente da Medicina de Precisão
Porto Unidade de Investigação Clínica aposta em ensaios clínicos precoces para cancros raros
É um corredor de gabinetes. Não há material de laboratório. A Ciência faz-se no computador. Com dados. Validados ao minuto, ao segundo. Uma equipa de 16 pessoas. Liderada por José Dinis, que fala, pensa, mexe-se à velocidade da luz. Na Unidade de Investigação Clínica do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, faz-se Medicina de Precisão. Dirigida não ao tumor, mas à alteração genética. “É a nova oncologia. A oncologia moderna é isto”.
Como? “Procurando a agulha no palheiro”. Tomemos por hipótese um cancro nas glândulas salivares. Raro, portanto. “Fazemos o perfil, vemos que há uma alteração genética X e sabemos que existem ensaios clínicos, de nova geração, nessa área. Ou seja, recrutamos o doente não pela localização do tumor, mas pela alteração genética”, explica.
Se o desenho deste perfil for feito pelo privado, pode custar mais de dois mil euros; enquadrado em ensaio clínico, fica a custo zero. E todos ganham. Os doentes. O IPO – em 2020, a unidade faturou dois milhões. O Estado, que por esta via não financia os tratamentos – que, facilmente, chegam às dezenas de milhares de euros. Os promotores, no caso, a indústria farmacêutica.
OLHAR O CANCRO RARO
O IPO está focado nos ensaios precoces, de fase I e II, associados à Medicina de Precisão. “Quanto mais precoce, mais importante é. Na fase III são aleatorizados – ou placebo ou tratamento. Na fase II faz sempre o experimental”, desmonta o oncologista.
Com ensaios especialmente dirigidos a cancros raros. Sendo que “um terço dos cancros são classificados como doenças raras”. Mas também “nos mais frequentes que cursem comportamentos clínicos foram do habitual”. Numa lógica “basket” (cesto). Em que se lança um ensaio com vários doentes com a alteração genética X, independentemente do órgão. Aberto a todos. “Isto é serviço público, recebemos doentes de todo o país”.
E do Mundo. Como o caso de uma doente oncológica do Brasil: “O médico recomendou o teste, entrou em contacto com a coordenadora e o promotor incluiu-a no ‘basket’”, explica José Dinis. Recordando, com Joana Maia, seu braço-direito, as dificuldades, em plena pandemia, para trazer aquela doente para toma do fármaco em Portugal. Possível com o apoio da Direção-Geral da Saúde e do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “Não houve interrupção do tratamento. Porque se o abandonasse, saía do estudo e perdia o acesso ao fármaco”, dizem.
O futuro da oncologia passa por aqui e é já um dos pilares do Programa Europeu de Luta Contra o Cancro. A verter para a estratégia nacional, frisa José Dinis, ele que é o diretor do Programa para as Doenças Oncológicas. “O IPO antecipou-se”.