1620 badaladas lembram o fim da II Grande Guerra
Aldeia de Arganil continua a fazer soar o sino por cada dia que durou combate
A pequena aldeia de Benfeita, em Arganil, continua a celebrar uma tradição que começou a 7 de maio de 1945. Quando o relógio marcar 14 horas, o sino da Torre da Paz vai tocar 1620 badaladas. “Uma badalada por cada dia que durou a II Guerra Mundial”, conta ao JN o presidente da Junta de Freguesia de Benfeita, José Pinheiro.
A cerimónia marca, por isso, o dia em que terminou a Segunda Grande Guerra. José Pinheiro conta que a informação “chegou através de um telefonema vindo do Porto”, e que de imediato começaram a ecoar as badaladas que celebravam a paz.
Tudo começou pela mão de Mário Mathias. Natural de Benfeita, estava na altura ao serviço do Governo. Foi esse benfeitense que mandou fazer a torre e o sino. A encomenda, por sua vez, foi feita à empresa de Manuel Francisco
Cousinha, também ele nascido na aldeia. Foi na sua fábrica de relógios que se produziu o mecanismo que permite que o sino toque de forma programada. “Apenas é necessário ir dando corda”, diz José Pinheiro, que explica que o mecanismo “já está programado para tocar àquela hora”. O presidente da Junta de Benfeita conta que “são quase três horas” com o sino a tocar. Ainda assim, diz que o barulho não é muito incómodo, já que o sino “não toca muito alto e tem um ritmo cadenciado”.
INSCRIÇÕES NO SINO
Pela sua história, as peças contam com várias inscrições. Além da autoria do pedido original de Mário Mathias, pode ler-se “este sino tocou pela primeira vez a anunciar o fim da guerra da Europa em 1945”. Já no mecanismo, algumas peças contam com as palavras “a paz seja connosco, bendigamos a paz, bendigamos a vitória”.
José Pinheiro explica que “atualmente, é a Junta de Freguesia que garante a manutenção da torre e dá corda ao sino”. No entanto, conta que durante largas décadas a estrutura esteve ao cuidado de António Martins “Mina”, diminutivo que herdou da mãe. António, que faleceu há cerca de dez anos, viu a torre erguer-se e foi um dos que fez o sino tocar na celebração que o tornou famoso. Desde aí, e enquanto a saúde lho permitiu, não mais deixou de dar corda ao mecanismo.
A Torre da Paz e a sua história são dos maiores atrativos daquela pequena aldeia. José Pinheiro diz que “na aldeia de Benfeita é o ponto mais visitado” e conta que vêm regularmente grupos turísticos para visitar a estrutura. A torre “está praticamente de origem” e apenas foi alvo de intervenção para ser revestida de xisto, material típico da região. Hoje, quando forem 14 horas, Benfeita volta a celebrar a paz para que não se esqueçam os terrores da guerra.