União, estética e integridade no FITEI
Teatro de Ferro e de Marionetas do Porto estreiam hoje homenagem a Maiakovski
“Conheço o poder das palavras, suscita-me, quero acabar de viver o que é meu” , escreveu Vladimir Maiakovski. No dia do funeral do escritor russo, 150 mil pessoas compareceram à despedida daquele que era “o poeta da Revolução”, demonstrando que o poder das suas palavras era inegável. Maiakovski tem como legado um depoimento diferenciado das tradições artísticas russas, com um contributo vanguardista do futurismo russo.
Esta personalidade que recorria frequentemente aos viajantes no tempo para ilustrar os seus questionamentos é a figura homenageada na produção “Maiakovski – O regresso do futuro”, que une o Teatro de Ferro, o Teatro de Marionetas do Porto e o Festival Internacional de Expressão Ibérica (FITEI).
Uma forma de provar que “a união faz a força”, como explicou o encenador Igor Gandra. As duas companhias, apesar de terem linguagens distintas, trabalham primordialmente com teatro de objetos e formas animadas. E Igor Gandra domina totalmente estas linguagens, já que dirige o Teatro de
Ferro e começou o seu percurso no Teatro de Marionetas.
Numa macroinstalação estão representadas as linhas temporais nas quais viajam “camaradas futuros” com mensagens sobre grandeza e camaradas passados com mensagens de (des)esperança. O espetáculo está visualmente muito bem conseguido, com uma série de quadros extremamente impactantes visualmente. Um exercício de estética acurado.
Quando os cinco intérpretes dançam com as suas botas russas vermelhas, cobertos com desenhos a grafite da cara de Maiakovski, é uma das imagens mais bonitas. Uma das primeiras cenas do diálogo com pés de balé está muito aprimorada. Ao longo de toda a produção o som tem grande importância na construção de significados, muitas vezes com alusões soviéticas, mas também a ambientes industriais.
“Maiakovski é incompreensível para as massas”, escrevem. Mas até os intelectuais padecem de afeto. “A barca do amor naufragou contra os rochedos da rotina”. Assim naufragou também Maiakovski.
Maiakovski – O regresso do futuro
TEATRO RIVOLI, PORTO SEXTA E SÁBADO