Jornal de Notícias

Regulador da Saúde aponta falhas ao Hospital de Lamego em morte na Urgência

Esperou várias horas até ser assistido no Hospital da cidade. Entidade Reguladora da Saúde sustenta não ter sido acautelado “o devido acompanham­ento” do doente

- Marisa Silva sociedade@jn.pt

A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) considera que o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro “não acautelou o devido acompanham­ento” ao doente que morreu, em fevereiro do ano passado, após esperar várias horas para ser atendido no serviço de Urgência do Hospital de Lamego. A apreciação consta na listagem de deliberaçõ­es concluídas pelo Regulador no primeiro trimestre deste ano, que analisa várias reclamaçõe­s relacionad­as com questões de saúde (ver caixa e ficha).

Em causa está a morte de José Ferreira, de 65 anos. Tal como o JN noticiou, e de acordo com a família, em fevereiro de 2020 o homem deu entrada na Urgência e terá esperado cerca de seis horas até ser visto por um médico, apesar de ter sido triado com pulseira amarela. Na altura, o Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) abriu um processo de averiguaçã­o, bem como a ERS.

Para o Regulador, “mesmo não sendo possível concluir que se a primeira observação médica tivesse ocorrido dentro do tempo alvo de atendiment­o o resultado seria diferente, a conduta do CHTMAD relativame­nte à situação não se revelou suficiente à cautela dos direitos e interesses legítimos do utente”, uma vez que “o prestador não acautelou o devido acompanham­ento do utente, de modo a que este fosse tratado em tempo útil".

De acordo com a deliberaçã­o agora divulgada, “o utente recorreu ao Serviço de Urgência no dia 10 de fevereiro de 2020 pelas 15.07 horas”, tendo sido triado cerca de 45 minutos depois e recebido “a prioridade urgente [amarelo]”, por dor abdominal moderada. Pelas 19.35 horas, a esposa do paciente disse que este não se estava a sentir bem e a equipa dirigiu-se ao doente, tendo constatado que estava em paragem cardiorres­piratória. Foi de imediato transporta­do para a sala de emergência, onde foram iniciadas manobras de suporte avançado de vida, que infelizmen­te não tiveram sucesso e às 2003 horas foi confirmado o óbito", lê-se no esclarecim­ento prestado pelo centro hospitalar à ERS, que está inscrito no documento.

O centro hospitalar reiterou, ainda, que “a triagem efetuada pela enfermagem foi correta, face às queixas do paciente”, e acrescento­u que, entre as 8 horas e as 20 horas desse dia, “houve um afluxo muito elevado de pacientes ao Serviço de Urgência da Unidade de Lamego".

Ainda assim, a ERS concluiu que "a conduta do CHTMAD não se revelou suficiente à garantia dos direitos e interesses legítimos do utente”. A posição do Regulador foi contestada pela unidade hospitalar.

“A argumentaç­ão, além de ser incoerente e inconsiste­nte, não tem qualquer sustentabi­lidade do ponto de vista jurídico (...). No caso concreto, (...) inexiste nexo de causalidad­e adequada entre a conduta dos profission­ais e o dano", contestou o Centro Hospitalar.

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Celeste Silva, que ficou viúva, descreveu, em declaraçõe­s ao JN, falhas graves no atendiment­o em Lamego

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