Salgado devolve milhões se o deixarem usar os bens
Ex-presidente do BES alega que é o único património que tem. Mas garante que não desviou dinheiro do GES
Ricardo Salgado “está disposto” a restituir à massa insolvente da Espírito Santo International (ESI) o montante que, segundo o Ministério Público (MP), terá desviado do Grupo Espírito Santo (GES) para a sua esfera pessoal, em 2011. O ex-líder do Banco Espírito Santo (BES) quer, contudo, fazê-lo recorrendo à fortuna arrestada e a cauções depositadas no âmbito do inquérito principal à queda do GES, em 2014, e do caso Monte Branco, iniciado em 2011. Alega que é o único património que tem para tal.
A devolução – que, a concretizar-se, permitirá a Salgado livrar-se de qualquer responsabilidade criminal pelo alegado desvio de 10,7 milhões de euros do GES – consta da contestação à acusação apresentada pela defesa do ex-banqueiro. No documento, a que o JN teve acesso, Salgado reitera, ainda assim, que está inocente.
O antigo líder do BES, de 76 anos, responde por três crimes de abuso de confiança, puníveis, cada um, com até oito anos de prisão. Ontem, o tribunal adiou para 6 de julho o início do julgamento, depois de o MP ter pedido tempo para analisar a contestação da defesa do arguido. Foi a segunda vez, numa semana, que as diligências foram reagendadas.
O processo foi separado, há dois meses, da Operação
Marquês, no âmbito da qual Salgado estava acusado de 21 crimes. Destes, apenas sobraram, no final da instrução, os três de abuso de confiança por que agora será julgado sozinho, em Lisboa.
“EMPRÉSTIMOS”, ALEGA
Em causa estão, segundo a acusação, três transferências entre a ES Enterprises, do GES, e sociedades sediadas em paraísos fiscais controladas pelo ex-banqueiro. Em duas das operações, o dinheiro terá ainda passado por contas de terceiros, entretanto ilibados (ler ficha).
Para o MP, Salgado ter-se-á apropriado, daquela forma, de 10,7 milhões de euros do GES, mas, na contestação, este contrapõe que em causa estão empréstimos. E frisa que, além de não ter centralizado em si a gestão do GES, já devolveu, na prática, sete milhões.
Sustenta, por isso, que apenas tem de restituir à detentora da ES Enterprises – a insolvente ESI – 3,7 milhões. É esta quantia, inferior à que tem arrestada, que Salgado quer que o tribunal afete a uma eventual restituição da fortuna.