Jornal de Notícias

Branquinho admite ter recebido empréstimo

Ex-deputado e ex-governante do PSD entre os dez julgados por tráfico de influência e outros crimes no caso do Hospital de Valongo

- Óscar Queirós justica@jn.pt

Agostinho Branquinho, ex-deputado do PSD, negou ontem em julgamento ter “urdido” o que quer que fosse para ajudar a viabilizar um hospital privado, em Valongo. Acusado de ter recebido 225 mil euros para influencia­r o Executivo e técnicos da câmara para que fosse declarado o “interesse público” daquele empreendim­ento, Branquinho só admitiu ter recebido o dinheiro, mas disse ter-se tratado de “um empréstimo” que, assegura, já pagou.

Ontem, no quartel dos bombeiros de Valadares, por exigências de espaço, com Agostinho Branquinho, frente ao coletivo presidido pelo juiz João Grilo do Amaral, começaram a ser julgados dois ex-vereadores de Valongo – Carlos Teixeira e Maria Trindade –, o dono do hospital, Joaquim Teixeira, três técnicos da autarquia e outros dois ligados ao empreendim­ento Hospital de S. Martinho de Campo. A cadeira vaga pertence a Fernando Melo, presidente do município na altura, que faltou por doença. Sobre todos pendem os crimes de tráfico de influência, prevaricaç­ão e falsificaç­ão de documentos, este na forma agravada.

“INTERESSE PÚBLICO”

Branquinho e Joaquim Teixeira respondem por mexerem os cordelinho­s e os restantes por, alegadamen­te, terem sucumbido às influência­s, para que fosse autorizado o aumento da volumetria do edifício de quatro para sete pisos passando por cima do Plano Diretor Municipal. Para tal, a autarquia reconheceu o “interesse público” da obra, alegadamen­te graças a artimanha. Os promotores assegurara­m que os dois primeiros pisos seriam para um centro de noite para os idosos, gerido pelo Centro Social e Paroquial de S. Martinho de Campo. A câmara – diz o MP que sabia estar a aprovar um embuste – até fez 50% de desconto nas taxas. O problema é que nunca houve qualquer centro, ficando a totalidade do edifício para cuidados de saúde privados.

Joaquim Teixeira, dono do hospital, não quis falar, mas falou, e longamente, Agostinho Branquinho. “Não tenho nada a ver com o processo de licenciame­nto camarário. Nunca tive qualquer intervençã­o”, garantiu, salientand­o que foi chamado pelo amigo Joaquim Teixeira para o ajudar. “Somos amigos há mais de 40 anos”, tanto que até se tratam por “manos”.

Quando o juiz presidente o questionou sobre os 225 mil euros que recebeu de Teixeira, o ex-secretário de Estado justificou que isso aconteceu “numa altura menos boa” da sua vida pessoal – em instâncias de divórcio. E foi Joaquim Teixeira quem lhe propôs o empréstimo, “não de 225 mil, mas sim de 235 mil, mais 10 mil que o que diz o MP”, acrescento­u com ironia. Esse dinheiro permitiu pagar o crédito ao banco, vender a casa e pagar a Teixeira. “Os cheques que recebi da venda foram endossados ao Joaquim Teixeira”, garantiu. Tudo o resto, a parte ilícita, são invenções do MP, assegurou. O julgamento continua no dia 18.

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Branquinho garante que foi o dono do hospital, seu amigo, a propor empréstimo
 ??  ?? Ex-vereadores Carlos Teixeira e Maria Trindade são arguidos no processo
Ex-vereadores Carlos Teixeira e Maria Trindade são arguidos no processo

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