Toda a fé em Portugal, nenhuma na UEFA
Portugal estreia-se hoje na defesa do título europeu de futebol no torneio mais absurdo da história da UEFA. Há 17 anos, o evento realizou-se no nosso país, tendo deixado um legado importante. Se há coisas que os portugueses não esquecem é aquele incrível mês de festa, que ajudou a direcionar os holofotes do turismo internacional para as nossas cidades. Nem tudo foi positivo, porque as autarquias ainda suportam uma dívida monstruosa referente à construção dos estádios, mas um Campeonato da Europa é sinónimo de festa, de partilha de experiências condensadas num ou dois países, nunca espalhando a competição por 11 cidades, como se de mais uma fase de apuramento se tratasse. Até há quem pense que assim é que está bem, por causa da pandemia, esquecendo-se, no entanto, que a decisão foi tomada anos antes do primeiro caso de covid-19. A estratégia da UEFA está muito longe de ser levar a festa do Europeu aos quatro cantos do Velho Continente. Deve-se, unicamente, à política mercantilista da anterior gestão do organismo, que entretanto parece já ter percebido que a fórmula não resulta.
Além destas questões, económicas ou sentimentais, emerge a equidade ou a falta dela. A prova, disputada por 24 seleções, coloca nove em clara vantagem sobre as restantes, pois jogam nos respetivos países. Ora, neste tipo de competição, normalmente uma, no máximo, duas formações merecem este estatuto, uma situação incontornável, uma vez que não é possível jogar em Marte e o sucesso também depende da capacidade da mobilização da federação organizadora. Mas a UEFA privilegiou, durante décadas, a acumulação de riqueza, quando devia preocupar-se, acima de tudo, com os valores do desporto. E já se viu que Ceferin nunca será grande catalisador de mudança.
É neste contexto que a equipa de Fernando Santos entra hoje em campo, sem o sopro dos emigrantes, nas bancadas, a empurrar a bola para a baliza, como há cinco anos. Mas, ao contrário do que acontece em relação às cúpulas da UEFA, neste caso, há esperança: a seleção sabe ganhar, quer repetir e um país inteiro acredita.