Jornal de Notícias

Toda a fé em Portugal, nenhuma na UEFA

- Vítor Santos POR Chefe de Redação

Portugal estreia-se hoje na defesa do título europeu de futebol no torneio mais absurdo da história da UEFA. Há 17 anos, o evento realizou-se no nosso país, tendo deixado um legado importante. Se há coisas que os portuguese­s não esquecem é aquele incrível mês de festa, que ajudou a direcionar os holofotes do turismo internacio­nal para as nossas cidades. Nem tudo foi positivo, porque as autarquias ainda suportam uma dívida monstruosa referente à construção dos estádios, mas um Campeonato da Europa é sinónimo de festa, de partilha de experiênci­as condensada­s num ou dois países, nunca espalhando a competição por 11 cidades, como se de mais uma fase de apuramento se tratasse. Até há quem pense que assim é que está bem, por causa da pandemia, esquecendo-se, no entanto, que a decisão foi tomada anos antes do primeiro caso de covid-19. A estratégia da UEFA está muito longe de ser levar a festa do Europeu aos quatro cantos do Velho Continente. Deve-se, unicamente, à política mercantili­sta da anterior gestão do organismo, que entretanto parece já ter percebido que a fórmula não resulta.

Além destas questões, económicas ou sentimenta­is, emerge a equidade ou a falta dela. A prova, disputada por 24 seleções, coloca nove em clara vantagem sobre as restantes, pois jogam nos respetivos países. Ora, neste tipo de competição, normalment­e uma, no máximo, duas formações merecem este estatuto, uma situação incontorná­vel, uma vez que não é possível jogar em Marte e o sucesso também depende da capacidade da mobilizaçã­o da federação organizado­ra. Mas a UEFA privilegio­u, durante décadas, a acumulação de riqueza, quando devia preocupar-se, acima de tudo, com os valores do desporto. E já se viu que Ceferin nunca será grande catalisado­r de mudança.

É neste contexto que a equipa de Fernando Santos entra hoje em campo, sem o sopro dos emigrantes, nas bancadas, a empurrar a bola para a baliza, como há cinco anos. Mas, ao contrário do que acontece em relação às cúpulas da UEFA, neste caso, há esperança: a seleção sabe ganhar, quer repetir e um país inteiro acredita.

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