Acusado de matar mãe à fome diz que ela “não comia muito”
Em Grândola, assistiu à degradação do estado da vítima no quarto ao lado. Ficava com reforma de dois mil euros
Isabel Velez, 82 anos, morreu à fome em casa, em Grândola, em agosto do ano passado, enquanto o filho, alcoólico e desempregado, via televisão no quarto ao lado. O caso chegou ontem a tribunal, onde Carlos Rosa responde por homicídio qualificado. O Ministério Público acusa-o de deixar a mãe morrer. “Ela sempre foi uma pessoa magra, não comia muito”, justificou o acusado no início do julgamento.
O arguido, de 54 anos, negou tudo e jurou pela sua saúde que tomava conta da mãe, encontrada subnutrida e com escaras numa cama cheia de fezes e com roupa de inverno no pico do verão. Não se levantava há pelo menos quatro meses. Carlos garantiu que um dia antes da morte mudou e lavou a roupa da mãe e que a alimentava. “Ela sempre foi uma pessoa magra, não comia muito, mas todos os dias a alimentava e só dois dias antes deixou de conseguir levantar-se”, disse, interrompido logo. “O estado da vítima não é de magreza, ela estava uma múmia”, acusou a juíza.
Não cozinhava
O arguido não cozinhava mas pedia ao merceeiro para lhe levar a casa água, chá, sopas Knorr, carne, leite, mel e marisco congelado. A última vez que comprou comida feita para a sua mãe foi em janeiro, uma sopa. A idosa morreu por falência multiorgânica.
Usava ambientadores
Carlos usava ambientadores no seu quarto para disfarçar o cheiro nauseabundo proveniente do quarto da progenitora, dada a falta de limpeza e de higiene.
O filho ficava com a reforma de dois mil euros mensais, valor que Carlos negou, dizendo que era de apenas 950 euros e que tinha de a gerir de forma poupada. “A minha mãe comia torradas e Cerelac era o seu preferido, não sei como é que podia ter chegado a este estado, talvez algo que não lhe tivesse sido diagnosticado”, defendeu-se Carlos. “Não me venha com coisas. O que está documentado não acontece em dois dias. Pode dizer o que quiser”, atirou a juíza numa das várias vezes que o interrompeu.”Eu é que lá estava”, respondeu o arguido. “Pois, infelizmente era só o senhor que lá estava”, sentenciou a magistrada.