Jornal de Notícias

Um gigante preso à burocracia e envolto em polémicas

Eficácia da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira colocada em causa pelo Tribunal de Contas

- Ana Sofia Rocha ana.s.ferreira@jn.pt

Foi criada em 2004, para dar resposta a problemáti­cas como terrorismo, tráfico e auxílio à imigração ilegal nas fronteiras externas da União Europeia, mas, quase 20 anos depois, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex) ainda não foi “suficiente­mente eficaz” a ajudar os estados-membros “na gestão das fronteiras externas e na luta contra a imigração ilegal”. As conclusões são de um relatório do Tribunal de Contas Europeu (TCE), que, depois de uma auditoria ao trabalho do organismo entre 2016 e 2020, questiona, ainda, a capacidade de a Frontex cumprir “eficazment­e o novo papel operaciona­l que lhe foi atribuído” em 2019.

A Frontex é agora uma estrutura gigante, ainda presa aos processos administra­tivos, com um orçamento de 460 milhões de euros – que deverá duplicar para os próximos anos – e envolta em polémicas, quer seja sobre a incapacida­de em cumprir os objetivos para os quais foi criada, quer seja por estar a ser investigad­a pelo Parlamento

Europeu por, alegadamen­te, rejeitar, de forma ilegal, migrantes e refugiados no Mediterrân­eo.

Depois da grande crise migratória de 2015, que deixou a Europa à procura de resposta para as cerca de um milhão de pessoas que chegaram ao continente naquele ano, fugidas de países devastados pela guerra ou fustigados pela Natureza, o Parlamento Europeu solicitou o reforço da Frontex, de forma a ajudar as autoridade­s nacionais responsáve­is pelas fronteiras.

FALTA DE COOPERAÇÃO

Todavia, o reforço referido foi feito com base “numa decisão política” e começaram aí os entraves num organismo que estava “consolidad­o do ponto de vista estrutural, mas que, do ponto de vista funcional, ainda não estava”, disse, ao JN, Ana Santos Pinto, investigad­ora do Instituto Português de Relações Internacio­nais da Universida­de Nova de Lisboa.

“A Frontex não tomou as medidas necessária­s para adaptar a sua organizaçã­o de modo a cumprir o mandato que lhe foi conferido em 2016”, lê-se no relatório.

Uma das principais causas para a Frontex estar a falhar é a falta de cooperação dos estados-membros com a agência, tratada muitas vezes com relutante desconfian­ça. “O sistema de troca de informaçõe­s entre as autoridade­s nacionais e a agência deve ser automatiza­do”, recomenda o TCE.

“Esta cooperação exige partilha de informação e de procedimen­tos e tudo isto não acontece de um dia para o outro. Muito pelo contrário, é um processo sensível, que demora muito tempo e pode levar também a alguma resistênci­a dos estados-membros”, adianta Ana Santos Pinto.

O passo dado em 2015 foi muito significat­ivo e, talvez, “maior do que a perna”. “Há um conjunto de objetivos que foram traçados e não têm vindo a ser cumpridos. Dificilmen­te, a agência correspond­erá às expectativ­as”, sublinha a investigad­ora.

Para o TCE, que parece ter pouca fé nas melhorias de desempenho da Frontex, será fundamenta­l “aumentar o potencial da avaliação da vulnerabil­idade da agência e melhorar a resposta operaciona­l da Frontex”, para que o gigante comece a funcionar em pleno.

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Várias têm sido as manifestaç­ões a pedir o desmantela­mento da Frontex

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