Aplicação para localizar crianças espera há seis anos por financiamento
Sistema desenvolvido em parceria com a GNR sem resposta da Segurança Social Todos os dias há três menores dados como desaparecidos em Portugal
Uma aplicação para telemóvel que permitiria encurtar o tempo de reação e socorro nos casos de crianças desaparecidas (des)espera há seis anos por um apoio de 37500 euros para estar funcional. Desenvolvida, com a colaboração da GNR, pela Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas (APCD), a “Miúdos e Graúdos no Radar” aguarda, inclusive, desde 2019 pelo resultado de uma candidatura a um programa da Segurança Social. “É demasiado tempo”, protesta a presidente da APCD, Patrícia Cipriano, que desconfia que a falta de apoios esteja relacionada com “questões partidárias”. Só no ano passado, a Polícia Judiciária abriu 1011 inquéritos relacionados com o desaparecimento de crianças (ver página seguinte).
O conceito, criado em 2013, é simples. Através de uma aplicação instalada nos telemóveis, crianças ou os seus pais poderiam, em caso de desaparecimento ou de outra situações de perigo, lançar um alerta, que seria recebido no Centro Nacional de Operações e Socorro da GNR. Nesta unidade, sediada em Lisboa, os militares fariam a triagem da informação, validariam a denúncia e rapidamente acionariam os meios necessários para o local sinalizado por georreferenciação. “Esta aplicação é inovadora, porque poderia diminuir o tempo de reação e evitar danos na vítima”, sustenta o tenente-coronel da GNR Tiago Lopes. O oficial alega ainda que a “Miúdos e Graúdos no Radar” permitiria monitorizar o caso, em tempo real, e adaptar os meios às necessidades identificadas.
CONOTADA COM O PSD
As vantagens da aplicação fizeram com que esta fosse, no ano passado, um dos vencedores do Programa Mais Ajuda, criado por entidades privadas para apoiar “projetos inovadores, sustentáveis e ambiciosos que acrescentem valor à comunidade em Portugal”. O prémio de 22 500 euros é insuficiente para cobrir o montante, de 60 mil euros, necessário para a aplicação ficar funcional.
“Desde 2015 que concorremos a vários apoios e, em novembro de 2019, apresentámos candidatura ao Programa de Celebração ou Alargamento de Acordos de Cooperação para o Desenvolvimento de Respostas Sociais, da Segurança Social. Mas nunca recebemos qualquer informação”, lamenta Patrícia Cipriano.
A presidente da APCD considera que é “demasiado tempo à espera” e só encontra “razões partidárias” para a falta da apoio ao projeto “Miúdos e Graúdos no Radar” e à própria instituição. “Somos uma associação apartidária, mas uma das nossas fundadoras foi Margarida Sousa Uva [esposa de Durão Barroso] e acho que, por isso, nos colam muito ao PSD. Somos muito fustigados nas avaliações dos projetos que candidatamos”, alega. Até ao fecho da edição, a Segurança Social não respondeu às questões colocadas pelo JN.