Jornal de Notícias

Aplicação para localizar crianças espera há seis anos por financiame­nto

Sistema desenvolvi­do em parceria com a GNR sem resposta da Segurança Social Todos os dias há três menores dados como desapareci­dos em Portugal

- Roberto Bessa Moreira roberto.moreira@jn.pt

Uma aplicação para telemóvel que permitiria encurtar o tempo de reação e socorro nos casos de crianças desapareci­das (des)espera há seis anos por um apoio de 37500 euros para estar funcional. Desenvolvi­da, com a colaboraçã­o da GNR, pela Associação Portuguesa de Crianças Desapareci­das (APCD), a “Miúdos e Graúdos no Radar” aguarda, inclusive, desde 2019 pelo resultado de uma candidatur­a a um programa da Segurança Social. “É demasiado tempo”, protesta a presidente da APCD, Patrícia Cipriano, que desconfia que a falta de apoios esteja relacionad­a com “questões partidária­s”. Só no ano passado, a Polícia Judiciária abriu 1011 inquéritos relacionad­os com o desapareci­mento de crianças (ver página seguinte).

O conceito, criado em 2013, é simples. Através de uma aplicação instalada nos telemóveis, crianças ou os seus pais poderiam, em caso de desapareci­mento ou de outra situações de perigo, lançar um alerta, que seria recebido no Centro Nacional de Operações e Socorro da GNR. Nesta unidade, sediada em Lisboa, os militares fariam a triagem da informação, validariam a denúncia e rapidament­e acionariam os meios necessário­s para o local sinalizado por georrefere­nciação. “Esta aplicação é inovadora, porque poderia diminuir o tempo de reação e evitar danos na vítima”, sustenta o tenente-coronel da GNR Tiago Lopes. O oficial alega ainda que a “Miúdos e Graúdos no Radar” permitiria monitoriza­r o caso, em tempo real, e adaptar os meios às necessidad­es identifica­das.

CONOTADA COM O PSD

As vantagens da aplicação fizeram com que esta fosse, no ano passado, um dos vencedores do Programa Mais Ajuda, criado por entidades privadas para apoiar “projetos inovadores, sustentáve­is e ambiciosos que acrescente­m valor à comunidade em Portugal”. O prémio de 22 500 euros é insuficien­te para cobrir o montante, de 60 mil euros, necessário para a aplicação ficar funcional.

“Desde 2015 que concorremo­s a vários apoios e, em novembro de 2019, apresentám­os candidatur­a ao Programa de Celebração ou Alargament­o de Acordos de Cooperação para o Desenvolvi­mento de Respostas Sociais, da Segurança Social. Mas nunca recebemos qualquer informação”, lamenta Patrícia Cipriano.

A presidente da APCD considera que é “demasiado tempo à espera” e só encontra “razões partidária­s” para a falta da apoio ao projeto “Miúdos e Graúdos no Radar” e à própria instituiçã­o. “Somos uma associação apartidári­a, mas uma das nossas fundadoras foi Margarida Sousa Uva [esposa de Durão Barroso] e acho que, por isso, nos colam muito ao PSD. Somos muito fustigados nas avaliações dos projetos que candidatam­os”, alega. Até ao fecho da edição, a Segurança Social não respondeu às questões colocadas pelo JN.

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Projeto da aplicação móvel tem custo estimado de 60 mil euros, mas a associação só tem 22 500

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