O circo a Lisboa
O Governo quis bater na Área Metropolitana de Lisboa mas sem aleijar muito. Porque o cerco imposto à região mais populosa do país tem um efeito meramente simbólico. Nem o vírus demonstra uma particular preferência para se propagar entre sexta-feira à tarde e segunda-feira de madrugada, como, no essencial, as limitações à mobilidade não vão alterar os comportamentos dos cidadãos menos conscientes e as rotinas dos negócios potenciadores de contágio. O que temos a reter de verdadeiramente importante é que Portugal continua a gerir a pandemia de 15 em 15 dias, confiando que a sorte nos continuará a servir de amparo. Já estivemos no Céu, já penámos no Inferno, voltámos ao Paraíso e caminhamos, de novo, na direção do Purgatório. Quisemos salvar o Natal (não conseguimos), quisemos salvar a Páscoa (não conseguimos) e eis que estamos muito perto de não sermos capazes de resgatar a época balnear que ia ser de redenção. Até podemos mitigar os efeitos da propagação da variante indiana no turismo doméstico, mas a imagem externa do país está irremediavelmente perdida. E hoje, olhando mais friamente para a realidade, talvez não nos soe tão injusta a retirada de Portugal da “lista verde” do Reino Unido. Se este verão for de travão a fundo, não podemos dizer que fomos apanhados na curva. Depois, continuamos a assistir de bancada ao arrufo político entre Marcelo e Costa para decidir quem manda mais e quem acerta primeiro. O presidente da República não queria ouvir falar em regresso a um confinamento mais duro, mas entretanto moderou a linguagem; o primeiro-ministro resiste em alterar a matriz do risco, porque sabe que a nova variante é imprevisível e a vacinação entre os jovens, neste momento o grande grupo transmissor, ainda vai demorar. Um e outro deviam guardar para si os estados de alma e as demonstrações de força. Porque para nós, deste lado, é só ruído. E todos sabemos que quando há muito ruído só se distinguem algumas coisas. Normalmente as que nos interessam. Não necessariamente as que interessam ao país.