Jornal de Notícias

De um tempo em que as palavras eram rasuradas a lápis tom de céu

- POR Lídia Pereira Eurodeputa­da do PSD

A colocação de imigrantes numa ala prisional é uma péssima ideia. Uma ideia tão má que apenas esperávamo­s ouvir em outros países ou num Portugal de um outro tempo.

Somos um país que gosta muito de falar em liberdade. E ainda bem. A liberdade de falarmos, de nos associarmo­s, de viajarmos. A liberdade da procura pela felicidade a que todos temos direito. E a liberdade tem qualquer coisa de fresco, de arejado.

Muitos portuguese­s emigraram para fugir do Estado Novo e da falta de condições económicas. Para fugir da pobreza, se quisermos ser mais concretos. Somos um país de emigrantes, com enormes comunidade­s pelo Mundo fora que ainda hoje auxiliam o país com muitas remessas de dinheiro. Devemos muito aos nossos emigrantes. Mais não fosse, por tudo isto, devemos uma compreensã­o especial para com os imigrantes, sem, naturalmen­Cabrita te, deixarmos de controlar quem entra no nosso país. Não deixa por isso de ser uma surpresa triste a utilização de uma ala de um estabeleci­mento prisional de Caxias para colocar imigrantes. A forma como Eduardo Cabrita tem gerido assuntos como imigração, o SEF, o caso Ihor Homeniuk é deplorável e só piorou quando este Ministro declarou: “bem-vindos, finalmente, ao combate pelos direitos humanos”. Se fosse humorista Eduardo Cabrita seria péssimo, porque isto nem como piada se diz. Sendo ministro (por não ter sequer a dignidade de resignar ao cargo), é sinal de uma total desconexão com a realidade e uma total falta de noção.

Mas voltando a Caxias, este caso da colocação de imigrantes numa ala prisional é uma péssima ideia. Uma ideia tão má que apenas esperávamo­s ouvir em outros países ou num Portugal de um outro tempo. E é uma ideia que rapidament­e se percebe que é tão má que só podia ser agravada com uma mentira. Eduardo mentiu ao Parlamento, à comunicaçã­o social e a todos os portuguese­s, dizendo que era apenas uma hipótese em estudo quando esta já estava assinada pela sua própria mão. Um protocolo que previa inclusivam­ente a adaptação da ala prisional para detenção destes imigrantes. Como pode agora Eduardo Cabrita mentir, dizendo que apenas estava em estudo? Cabrita não é apenas um péssimo ministro, é um ministro que mente ao Parlamento e aos portuguese­s. Podemos aceitar viver num país em que um ministro da Administra­ção Interna mente ao Parlamento sem consequênc­ias?

Cabrita tem de sair do Governo, mas tem também de sair desta cave sombria onde se encontra para poder arejar as ideias. A liberdade não é um adereço para usar na lapela, ou apenas para ser proclamada. Precisamos de um Governo que abandone práticas de um tempo em que as palavras e as liberdades eram rasuradas a lápis tom de céu.

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