De um tempo em que as palavras eram rasuradas a lápis tom de céu
A colocação de imigrantes numa ala prisional é uma péssima ideia. Uma ideia tão má que apenas esperávamos ouvir em outros países ou num Portugal de um outro tempo.
Somos um país que gosta muito de falar em liberdade. E ainda bem. A liberdade de falarmos, de nos associarmos, de viajarmos. A liberdade da procura pela felicidade a que todos temos direito. E a liberdade tem qualquer coisa de fresco, de arejado.
Muitos portugueses emigraram para fugir do Estado Novo e da falta de condições económicas. Para fugir da pobreza, se quisermos ser mais concretos. Somos um país de emigrantes, com enormes comunidades pelo Mundo fora que ainda hoje auxiliam o país com muitas remessas de dinheiro. Devemos muito aos nossos emigrantes. Mais não fosse, por tudo isto, devemos uma compreensão especial para com os imigrantes, sem, naturalmenCabrita te, deixarmos de controlar quem entra no nosso país. Não deixa por isso de ser uma surpresa triste a utilização de uma ala de um estabelecimento prisional de Caxias para colocar imigrantes. A forma como Eduardo Cabrita tem gerido assuntos como imigração, o SEF, o caso Ihor Homeniuk é deplorável e só piorou quando este Ministro declarou: “bem-vindos, finalmente, ao combate pelos direitos humanos”. Se fosse humorista Eduardo Cabrita seria péssimo, porque isto nem como piada se diz. Sendo ministro (por não ter sequer a dignidade de resignar ao cargo), é sinal de uma total desconexão com a realidade e uma total falta de noção.
Mas voltando a Caxias, este caso da colocação de imigrantes numa ala prisional é uma péssima ideia. Uma ideia tão má que apenas esperávamos ouvir em outros países ou num Portugal de um outro tempo. E é uma ideia que rapidamente se percebe que é tão má que só podia ser agravada com uma mentira. Eduardo mentiu ao Parlamento, à comunicação social e a todos os portugueses, dizendo que era apenas uma hipótese em estudo quando esta já estava assinada pela sua própria mão. Um protocolo que previa inclusivamente a adaptação da ala prisional para detenção destes imigrantes. Como pode agora Eduardo Cabrita mentir, dizendo que apenas estava em estudo? Cabrita não é apenas um péssimo ministro, é um ministro que mente ao Parlamento e aos portugueses. Podemos aceitar viver num país em que um ministro da Administração Interna mente ao Parlamento sem consequências?
Cabrita tem de sair do Governo, mas tem também de sair desta cave sombria onde se encontra para poder arejar as ideias. A liberdade não é um adereço para usar na lapela, ou apenas para ser proclamada. Precisamos de um Governo que abandone práticas de um tempo em que as palavras e as liberdades eram rasuradas a lápis tom de céu.