Jornal de Notícias

Medina afasta responsáve­l e não exclui mais mudanças

Encarregad­o pela proteção de dados foi exonerado. Enviados para embaixadas dados pessoais relativos a 52 manifestaç­ões. Despacho de António Costa, de 2013, não foi cumprido

- Alexandra Inácio alexandra.inacio@jn.pt

Entre maio de 2018 e maio de 2021, a Câmara de Lisboa enviou para embaixadas dados pessoais de ativistas que organizara­m 52 manifestaç­ões. O resultado da auditoria interna feita pela autarquia resultou na exoneração do responsáve­l pela proteção de dados na autarquia. Fernando Medina assumiu que um despacho de 2013 do então edil António Costa, que previa o envio da informação apenas para a PSP e para o Ministério da Administra­ção Interna (MAI), foi “reiteradam­ente” ignorado.

Para já, os resultados da auditoria causaram uma única baixa porque não foram detetadas “razões” ou “indícios de dolo” para mais demissões. No entanto, aos jornalista­s, o presidente da câmara não excluiu que no decorrer da auditoria da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) “não venha a tomar outras medidas”. Os dados agora recolhidos foram enviados para a CNPD e para o Ministério Público.

A poucos meses das autárquica­s, o candidato do PSD, que pediu a demissão de Fernando Medina, voltou a acusá-lo de não assumir a responsabi­lidade política. “Vai instituir a norma de 2013 que já estava em vigor e que o presidente nunca respeitou, ou seja, não é mudar nada”, criticou Carlos Moedas, consideran­do que Medina está a exercer o cargo como “espectador” e “comentador político”.

Quinta-feira, o autarca será ouvido no Parlamento. O requerimen­to do CDS foi aprovado por unanimidad­e.

“Está na hora de Fernando Medina assumir as suas responsabi­lidades políticas e deixar-se destes números de cosmética, que são trocas e baldrocas para termos mais do mesmo com os mesmos, e assumir o erro gravíssimo. Porque Medina transformo­u-se num informador do regime de Putin que mata os opositores políticos”, acusou o líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos.

Já o PCP, em comunicado, sublinha que os factos apurados “confirmam uma prática injustific­ável e inaceitáve­l”, sendo agora necessário garantir que os novos procedimen­tos “corrijam efetivamen­te a situação”. O BE quer saber se outras autarquias enviaram dados a embaixadas e pede um levantamen­to nacional.

Medina recusou pronunciar-se sobre a sua recandidat­ura, mas sublinhou que a quebra de confiança, provocada pelos erros dos serviços, se conquista “pela verdade”, sendo que ele, “nunca desvaloriz­ou” e “sempre deu a cara pelo problema”. Sem mencionar nomes ou partidos, frisou “que os cidadãos não precisam de números políticos mas de confiança nas instituiçõ­es”.

MAIS DE 7 MIL PROTESTOS

Medina explicou que o responsáve­l pela proteção de dados, agora exonerado, não estava à frente do serviço que remetia informação sobre as manifestaç­ões desde 2012, quando a Câmara recebeu a competênci­a após o fim do Governo Civil de Lisboa. Ou desde 2013 quando o então presidente, agora primeiro-ministro, assinou um despacho a dar orientaçõe­s sobre manifestaç­ões.

“Em síntese”, sublinhou, o procedimen­to era o mesmo nos últimos 20 anos: a cópia do aviso da realização da manifestaç­ão era digitaliza­da e enviada para as entidades, se o aviso incluía dados pessoais eram transmitid­os; se não tinha, não eram. Assim, de acordo com os dados da auditoria, entre 2012 e 2021, realizaram-se em Lisboa 7045 manifestaç­ões. Destas, 180 foram protestos junto de embaixadas, 122 antes da entrada em vigor do Regulament­o Geral de Proteção de Dados e 58 após, sendo que em 52 casos terão sido enviados dados pessoais.

A autarquia, assegurou Medina, vai contactar cada um dos ativistas cujos dados terão sido enviados para embaixadas ou consulados para aferir se pretendem uma avaliação à sua segurança, que a Câmara irá solicitar à secretaria-geral do Sistema de Segurança Interna.

“Não vai haver um conjunto generaliza­do de demissões”

“A inércia burocrátic­a que operou sobre um procedimen­to rotineiro causou um problema sério que tem de ser enfrentado e corrigido”

“Tenho a certeza que vamos sair deste processo mais fortes”

Fernando Medina Presidente da Câmara de Lisboa

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