Especialistas avisam para perigo de trauma
Acompanhamento especializado e atenção a mudanças de comportamento são fundamentais
Situações em que uma criança esteja desaparecida e afastada dos pais durante um longo período de tempo podem ser traumáticas, afirmam especialistas, apontando possíveis alterações comportamentais.
Para o psicólogo especialista em trauma João Veloso, o caso de Noah “tem um potencial traumático elevado”. “Possivelmente, vai instalar aquilo que seriam as situações de desconforto que possa ter passado. Por exemplo, se passou por muito frio, pode instalar essa sensação de frio enquanto trauma; se sentiu fome, pode instalar essa sensação de fome num contexto em que ela própria não vai conseguir explicar porquê”, afirmou à Lusa.
João Veloso destaca manifestações para as quais a família deverá estar atenta, como a alteração do padrão do sono, do padrão relacional, do padrão alimentar, da sua autonomia, do controlo do esfíncter ou de uma dificuldade maior em ir para a cama. “É preciso estar atento a esses padrões”, disse. Acrescenta que é importante haver monitorização por técnicos da saúde mental com valências na área infane na do trauma. “Como não mandamos um clínico geral tratar de uma fratura de um perónio ou de uma tíbia, nestes casos é também muito importante haver um acompanhamento especializado”, defende.
A diretora do serviço de pedopsiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário da Cova da Beira, Paula Correia, avisa que a criança poderá ter “medo de voltar a ficar sozinha, pode aumentar as birras, ficar mais dependente dos pais e apresentar o seu sofrimento a partir de alterações no sono, na alimentação e ter dificuldade em separar-se dos pais para se deitar”. “Devem estar atentos aos seus medos e dar uma dose extra de atenção e carinho”, salientou.
Paula Correia
Pedopsiquiatra
“[Os pais] devem estar atentos e dar uma dose extra de atenção e carinho”