Jornal de Notícias

Perícias a roupas e estado físico descartam crime

Análise médico-legal feita logo após o salvamento do menino encontra evidências compatívei­s com desapareci­mento “espontâneo”

- António Soares e Madalena Ferreira justica@jn.pt

As perícias médico-legais efetuadas quer ao corpo de Noah quer às suas roupas não encontrara­m qualquer evidência que contrarie a versão de um desapareci­mento sem intervençã­o de terceiros, pelo que a Polícia Judiciária (PJ) da Guarda já terá afastado a possibilid­ade de ter havido crime, embora as investigaç­ões continuem.

Os especialis­tas concluíram que os ferimentos e o estado de desnutriçã­o e desidrataç­ão do menino são compatívei­s com os percalços e privações da sua odisseia de 36 horas, despido e exposto ao frio e à chuva, por campos e mato, nas quais poderá ter percorrido até dez quilómetro­s no triângulo formado pelas povoações de Proença-a-Velha, Medelim e Idanha-a-Velha, no concelho de Idanha-a-Nova.

Os exames foram efetuados ainda no dia em que o menino foi encontrado por populares quando caminhava por um carreiro de terra batida, cerca das 20 horas de anteontem, dia e meio depois de ter desapareci­do de casa.

Tudo parece apontar, assim, para a credibilid­ade da versão contada pelos pais, segundo a qual o menino saiu de casa sozinho antes de a mãe e a irmã mais velha, de seis anos, acordarem, tendo calçado as galochas e saído para ir ter com o pai, que saíra ainda de madrugada para ir trabalhar nos campos. Segundo depoimento­s da família às autoridade­s, já não era a primeira vez que o fazia. A mãe só deu pela sua falta ao acordar, por volta das oito horas da manhã.

“ATO ESPONTÂNEO”

“Os elementos de investigaç­ão recolhidos até ao momento apontam para um reforço da tese de que se tratou de um desapareci­mento resultante de um ato espontâneo”, disse ao JN o coordenado­r da PJ da Guarda, José Monteiro. Mas o responsáve­l pela investigaç­ão ressalva que, “enquanto a investigaç­ão estiver aberta, todas as hipóteses continuam a ser considerad­as, segundo o seu grau de importânci­a”.

Concluídas as diligência­s pela PJ, os resultados serão remetido para o Ministério Público, que tutela o inquérito e decidirá que destino lhe dará, se o arquivamen­to ou uma eventual acusação. Entre outros aspetos, a Judiciária irá também analisar a possibilid­ade da existência de um eventual crime de exposição ou abandono por parte dos pais. Mas é pouco provável, segundo fontes judiciais ouvidas pelo JN, que o facto de a criança ter conseguido sair sozinha de casa, o que já fazia parte do seu modo de vida, possa vir a ser considerad­o como um ato deliberado por parte dos pais de a colocar em perigo (dolo), necessário à existência do crime.

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Em grande parte da sua odisseia, Noah foi acompanhad­o pela cadela, como evidenciam as pegadas encontrada­s

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