Padre de Valongo contraria Branquinho em tribunal
José Manuel Macedo garante que não tratou de nada com a Câmara para que esta viabilizasse a construção de mais três andares no Hospital de S. Martinho
José Manuel Macedo, pároco de Campo (Valongo), contrariou ontem, em tribunal, o arguido Agostinho Branquinho, jurando nunca ter tratado com a Câmara de Valongo o processo de licenciamento do Hospital S. Martinho.
O sacerdote tem sido das personalidades mais faladas no julgamento em que os arguidos principais são Joaquim Teixeira, dono do polémico hospital; Agostinho Branquinho, ex-secretário de Estado de Passos Coelho (alegadamente subornado com 235 mil euros para conseguir da edilidade valonguense a declaração de “interesse público” para aquele hospital privado); Fernando Melo, ex-presidente da autarquia; e dois dos vereadores deste último.
Chamado prestar declarações, o abade, logo após jurar “dizer a verdade”, assumiu ter estado na génese e acompanhado a edificação daquela unidade de saúde privada, “sem qualquer vínculo” ao construtor e até chegar ao negócio Agostinho Branquinho – o que terá acontecido só em 2006, a acreditar no depoimento do ex-governante, que, na sessão anterior, assumiu ter participado no projeto como consultor, mas negou ao tribunal ter
Abraços
Antes de abandonar a sala de audiências, o padre cumprimentou Branquinho e Joaquim Teixeira, este mais sentidamente, com um longo abraço.
Crimes
Os arguidos respondem por tráfico de influência, prevaricação e falsificação de documentos. A autarquia terá deliberadamente aceitado uma mentira – afetação de dois pisos para um centro noturno de idosos, nunca disponibilizado pelo hospital privado. manobrado quem quer que fosse da Câmara para obter para a obra a declaração de “interesse público”, documento que permitiu violar o Plano Diretor Municipal e acrescentar três pisos aos quatro autorizados pela autarquia. “O Joaquim Teixeira disse-me que foi o padre Macedo quem tratou disso”, contara Agostinho Branquinho na última segunda-feira.
Mas o padre, ouvido ontem como testemunha, negou aquela versão. O que assumiu foi que era amigo, “há 30 anos”, do dono do hospital, que lhe arranjara o terreno para o edificar e que, como contava conseguir ali lugar para um centro de idosos, acompanhou de perto a construção. Isto porque o bispo - “o meu superior hierárquico”, disse não autorizou adaptação da Casa Paroquial a essa valência. Quanto ao processo de licenciamento e ao famigerado “interesse público” do hospital privado, o abade foi perentório: “Nunca tratei de nada com a câmara”, declarou.
Na audiência de ontem, testemunharam ainda Maciel Barbosa, na altura presidente da Administração Regional de Saúde do Norte; Madalena Barros, do mesmo organismo; e um arquiteto do município de Valongo. Todos negaram ter sofrido qualquer pressão neste processo.