Jornal de Notícias

Reencontra­r a música

- Hélder Pacheco POR Professor e escritor

Num livro de curso portuense, de 1955/59, na página dedicada a certo noctívago exortava-se: “A vida nocturna precisa de mais convicção e cabaretes”. Coisa difícil na época. Mas agora o assunto vem a calhar: se tudo correr nos conformes, o Porto voltará a ser destino privilegia­do para muitos. De “cabaretes” sei pouco. Ouvi falar de um, na Travessa da Picaria, famoso pelas bailarinas espanholas. Mas, entranhado costume tripeiro eram os cafés-concerto, tradição viva nos anos trinta, que a supracitad­a dificuldad­e eclipsou nos anos quarenta. Ficaram recordados o Recreio, no Laranjal, o Monumental (que incluía baile), na Avenida e o Avenida, depois chamado Vitória (lembro-me, em catraio, de o ver, deslumbran­te, cheio de plantas, espelhos e com um trio tocando). E havia o Guarany. Deste, encontrei uma sobreviven­te dos anos da II Guerra que se recordava de, aos domingos e em noites da semana, estar cheio de gente por, além do excelente café, oferecer música ao vivo, com destaque para piano e violino. As melodias mais tocadas eram valsas de operetas – “A viúva alegre” e “Os sinos de Corneville” – e uma música muito em voga (dançavam-na quando o “Titanic” foi abalroado pelo icebergue). As melodias de Strauss também faziam parte do programa. E assim as famílias passavam as tardes de domingo. Quando a cidade se prepara para renascer do tédio, é a altura dos empreended­ores que renovaram o seu comércio darem trabalho aos artistas retomando a tradição dos cafés-concerto. Nem seria preciso muito, bastava dar sentido ao que Stephen Sondheim chamou “Uma pequena música nocturna”.

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