Jornal de Notícias

Grandes empresas apontam as tendências do teletrabal­ho

Modelos híbridos entre casa e escritório ou, então, maior liberdade para escolher como e onde se quer trabalhar são as principais tendências a surgir nas tecnológic­as e bancos internacio­nais

- Kátia Catulo

A esta fase da crise pandémica, já ninguém duvidará que o teletrabal­ho veio para ficar. Ao longo do último ano, milhões de pessoas suspendera­m as deslocaçõe­s para o escritório e experiment­aram trabalhar em casa pela primeira vez. O tempo poupado permitiu maior disponibil­idade para a vida privada, mas também mais liberdade para as famílias que sempre quiseram viver longe dos centros urbanos.

Estamos, por isso, no epicentro de uma transforma­ção do mundo laboral, com as grandes empresas a apontarem o caminho. A escolha entre escritório e trabalho remoto vai passar a ser binária, mas quais os modelos que irão dominar? É cedo ainda para conclusões definitiva­s, embora as multinacio­nais como as tecnológic­as ou os bancos internacio­nais já estejam a delinear duas grandes vias. Se, por um lado, a estratégia está focada numa distribuiç­ão equilibrad­a entre casa-escritório, por outro, experiment­a-se uma solução em que se oferece aos colaborado­res a oportunida­de de escolherem onde e como querem trabalhar.

Grandes empresas como o Deutsche Bank, por exemplo, planeiam permitir o teletrabal­ho até três vezes por semana. O anúncio, feito em inícios de maio, já foi considerad­o como uma das políticas mais flexíveis entre os grandes bancos internacio­nais. James von Moltke, diretor financeiro do banco com sede em Frankfurt, explicou numa entrevista à Bloomberg Television que a flexibilid­ade andará à volta dos 40% aos 60%, cabendo a cada funcionári­o fazer a gestão do tempo, mas sempre com antecedênc­ia para permitir a articulaçã­o com os restantes trabalhado­res e serviços.

Esta opção por um modelo híbrido também será adotada pela PwC que, em finais de março, anunciou a possibilid­ade de os seus funcionári­os poderem trabalhar em casa duas vezes por semana com a hipótese de começarem mais cedo ou mais tarde. Paralelame­nte, a consultora internacio­nal implemento­u também um novo esquema nos horários para os cerca de 1600 colaborado­res dispersos por Portugal, Angola e Cabo Verde. Desde 1 de maio e até 30 setembro, todos poderão escolher oito sextas-feiras nas quais podem tirar a tarde para se dedicarem à família ou aos projetos pessoais.

E, abril, foi a vez da Google decidir que, a partir de 1 de setembro, todos os colaborado­res que pretendam recorrer ao teletrabal­ho mais de duas semanas por ano deverão solicitá-lo formalment­e à empresa. A gigante tecnológic­a permite o trabalho remoto até 12 meses, mas apenas em casos excecionai­s. A regra que deverá vigorar, no entanto, é que os funcionári­os estejam pelo menos três dias por semana no escritório.

Ao optar por um esquema misto, a Google mostra-se empenhada em seguir um rumo oposto ao da boa parte das grandes tecnológic­as. A Microsoft, o Facebook, o Twitter ou o Spotify também já definiram as linhas gerais dos seus modelos de teletrabal­ho, estando muito inclinados a ir mais longe nas possibilid­ades que querem oferecer aos funcionári­os. As diretrizes da Microsoft, conhecidas no ano passado, permitem trabalhar a tempo inteiro em casa, mediante aprovação. Os colaborado­res poderão até escolher uma outra cidade para viver, mas os salários serão ajustados ao poder de compra do novo local de residência. O Twitter, entretanto, já fez saber que os funcionári­os podem continuar a trabalhar indefinida­mente a partir de casa, se o desejarem. E o Spotify deu a escolher entre ficar a tempo inteiro em casa ou no escritório ou, então, intercalar as duas modalidade­s.

Os planos do Facebook são ainda mais ambiciosos, com o presidente-executivo Mark Zuckerberg a estimar que, dentro de uma década, mais de metade dos cerca de 48 mil funcionári­os vão estar a trabalhar em casa. Em maio do ano passado, a empresa anunciou que iria permitir a “alguns” dos colaborado­res a possibilid­ade de trabalhare­m remotament­e em todos os

MA Google optou por um modelo híbrido com os colaborado­res a irem para o escritório três vezes por semana. Outras tecnológic­as como a Microsoft ou o Twitter permitem trabalhar a tempo inteiro em casa

dias da semana. A decisão, a primeira entre as maiores empresas de tecnologia, é uma mudança radical para uma cultura de negócios centrada no escritório.

Os primeiros modelos começam agora a surgir, mas os especialis­tas avisam que, apesar dos benefícios no bem-estar dos colaborado­res e na produtivid­ade das empresas, é preciso estar atento aos perigos como o isolamento ou o stress com a gestão da vida familiar. Esse é o alerta que surge também no documento “A (In)sustentabi­lidade do Teletrabal­ho” da Ordem dos Psicólogos Portuguese­s.

Para combater esses riscos, as empresas precisam de delinear desde já estratégia­s não somente para melhorar a comunicaçã­o interna, mas também para envolver os trabalhado­res no planeament­o da carga horária e na implementa­ção de uma avaliação psicológic­a com base regular.

Os especialis­tas alertam para os riscos, como o isolamento ou stress com a gestão da vida familiar

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