Jornal de Notícias

Segundo mandato com “tarefas colossais” à vista

António Guterres reconduzid­o na ONU. No discurso de juramento, lembrou que o Mundo terá de responder cooperando e que há motivos para ter esperança

- Ana Sofia Rocha ana.s.ferreira@jn.pt

Um “português orgulhoso” e um “multilater­alista devoto”. Foi assim que António Guterres, antigo primeiro-ministro de Portugal, se descreveu no discurso de juramento para o segundo mandato como secretário-geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), prometendo cumpri-lo “com humildade” e com o “espírito de construir confiança e inspirar esperança”. Na sede da instituiçã­o, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, destacou a necessidad­e de usar as lições aprendidas com a crise provocada pela pandemia de covid-19 para “mudar a maré” e apontou a distribuiç­ão de vacinas para combater o novo coronavíru­s como “prioridade mundial absoluta” do próximo mandato.

“Só podemos enfrentar com sucesso os complexos desafios dos dias de hoje com uma abordagem humilde – uma em que, sozinho, o secretário-geral não tenha todas as respostas, nem procure impor os seus pontos de vista”, clamou o diplomata, destacando que se avistam “tarefas colossais”, que precisarão de uma resposta robusta e pensada em união.

Num discurso em três idiomas – inglês, francês e espanhol – e repleto de alertas, Guterres insistiu que, para fazer a diferença, servirá igualmente os estados-membros da ONU “como mediador e construtor de pontes” para um “multilater­alismo” que quer ver reforçado.

“O maior desafio – e, ao mesmo tempo, a maior oportunida­de – é usar a crise [da covid-19] para seguir em direção a um Mundo que aprende lições, promove uma recuperaçã­o justa, verde e sustentáve­l e que mostra o caminho através de uma cooperação internacio­nal crescente e eficaz”.

Ainda assim, falando aos média depois do discurso, reconheceu que, a curto prazo, “provavelme­nte, as coisas não mudarão muito” para os mais desfavorec­idos.

FUTURO MAIS VERDE

Depois de um mandato atrapalhad­o pela pandemia, que terá levado à perda de cerca de 114 milhões de empregos e deixado mais de 55% da população mundial sem qualquer forma de proteção social, o secretário-geral advogou que é necessário que as vacinas estejam disponívei­s “para todos e em todos os países”, sendo “absolutame­nte indispensá­vel que os governos que estão a mobilizar enormes recursos para a reconstruç­ão e recuperaçã­o das economias o façam de uma maneira inclusiva e sustentáve­l”.

Apelou à “renovação da solidaried­ade”, propondo a reinvenção do “contrato social” a nível nacional e “um multilater­alismo mais inclusivo, interconec­tado e eficaz” a nível global.

Apesar de a recuperaçã­o mundial da covid-19 estar no topo da agenda, Guterres destacou, ainda, que há vários “desafios globais, como as mudanças climáticas, as crescentes desigualda­des, o declínio dos direitos humanos, a falta de regulament­ação no ciberespaç­o e a natureza mutável dos conflitos”, que estarão também na lista de prioridade­s.

A “dignidade humana e a paz com a natureza” será o centro do “trabalho e esforço comum”, garantiu o diplomata, insistindo que “um Mundo desigual é um Mundo que se torna irrespiráv­el”.

“Estamos a escrever a nossa própria História com as escolhas que fazemos neste momento. E pode ser escrita de duas maneiras: colapso e crise perpétua ou descoberta e perspetiva de um futuro mais verde e mais seguro. Existem motivos para ter esperança”, advogou.

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Secretário-geral proferiu discurso de juramento na ONU, em Nova Iorque, EUA

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