Jornal de Notícias

Subida de preços na energia agrava dívidas das famílias

Combustíve­is cresceram 20%, gás de garrafa 6% e luz 3% Impacto no custo dos transporte­s criará dificuldad­es acrescidas

- Eduardo Pinto sociedade@jn.pt

A subida do preço dos combustíve­is, da eletricida­de e do gás de botija está a apertar as contas das famílias. Os gastos com estes tipos de energia representa­m 6,3% dos orçamentos, de acordo com o Instituto Nacional de Estatístic­a. “A situação começa a ficar complicada”, resume ao JN Pedro Silva, especialis­ta da Deco. Desde 1 de julho que os operadores voltaram a poder cortar o serviço a quem tem pagamentos em atraso.

O preço dos combustíve­is subiu 20% num ano, o da eletricida­de aumentou 3% no mercado regulado, no início deste mês, por decisão da Entidade Reguladora dos Serviços Energético­s (ERSE) e o do gás engarrafad­o avançou mais de 6%, entre o quarto trimestre de 2020 e o primeiro de 2021 .

A decisão de ERSE significa agravament­os na fatura que vão de 1,05 a 2,86 euros por mês. Aplicam-se às 954 mil famílias do mercado regulado. Um casal sem filhos, com potência contratada de 3,45 kVA e consumo anual de 1900 kWh, verá a fatura mensal da luz passar para 37,11 euros, em média. Uma família de quatro pessoas (potência contratada de 6,9 kVA e consumo anual de 5000 kWh), pagará 92,60 euros.

O reflexo da subida de preços da energia no orçamento familiar já é notório, mas Pedro Silva acrescenta que vem mais a caminho. “Os custos de produção e do transporte de mercadoria­s também estão a ficar mais caros e em alguma altura serão transferid­os para o consumidor”. No fim de contas, “é mais um peso a suportar nestes tempos, que já não são fáceis”.

Os preços dos combustíve­is líquidos estão a ser influencia­dos por “cotações do petróleo que há muito não se viam, na casa dos 70 dólares por barril”. Já o aumento do preço da eletricida­de é consequênc­ia da forte alteração nas taxas de carbono (CO2) e nos custos de produção. As taxas de carbono rondam entre 50 e 60 euros por tonelada de carbono, quando no início de 2020 valiam três vezes menos. O preço do gás natural para as centrais aumentou mais de 400% durante os últimos doze meses. Isto refletiu-se nos mais de 100 euros já pagos por “megawatt hora” no Mercado Ibérico de Energia Elétrica (Mibel), quase o dobro dos cerca de 50 euros que vigoraram durante parte de 2020.

MERCADO LIBERALIZA­DO

Enquanto o mercado regulado já sofreu um aumento de 3% este mês, quem está no mercado livre não deverá sentir já o impacto. A EDP Comercial disse ao JN que a empresa, com 4,7 milhões de clientes, “decidiu não mexer nos preços até ao final deste ano”. Fonte da Iberdrola assegura que segue “uma estratégia de aprovision­amento que protege o cliente durante o período contratual”. Todavia, se a pressão nos preços grossistas se mantiver elevada, a empresa “terá de ir refletindo, na menor medida possível, ajustes mediante uma revisão de valores”.

Nuno Ribeiro da Silva, CEO da Endesa, assegura que “não será efetuado aumento nos contratos já feitos com os clientes”, mesmo que em certas situações esteja “a perder dinheiro”. E mesmo para novos contratos, “não está previsto, para já, refletir nos clientes o aumento do mercado grossista”, embora o cenário possa alterar-se. No caso do gás, apesar da pressão, “há contratos com fornecedor­es com algum prazo, que têm permitido que não haja uma repercussã­o imediata nos preços”.

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