Jornal de Notícias

Protestos contra Governo voltam à rua 25 anos depois

Milhares contra o Governo. Presidente, Díaz-Canel, acusa EUA de estarem por trás dos protestos

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O secretário-geral da Organizaçã­o dos Estados Americanos, Luis Almagro, condenou o “regime ditatorial” de Cuba por “chamar os civis a reprimir” os protestos antigovern­amentais – algo raro no país – e por promover o confronto. “Reconhecem­os a reivindica­ção legítima da sociedade cubana por medicament­os, alimentos e liberdades fundamenta­is”, salientou, na rede social Twitter.

Aqueles foram os maiores protestos antigovern­o de que há registo na ilha desde o chamado “maleconazo”, quando, em agosto de 1994, em pleno “período especial”, centenas de pessoas saíram às ruas de Havana, a capital, e não se retiraram até à chegada do então líder cubano, Fidel Castro.

Por seu lado, o presidente dos Estados Unidos – que mantêm há anos um duro regime de sanções a Cuba –, Joe Biden, apelou ao regime cubano para “ouvir o povo e responder às suas necessidad­es”, consideran­do que os protestos constituem um “valente exercício de direitos fundamenta­is”. “Estamos ao lado do povo cubano e do seu vibrante apelo para ser libertado das dramáticas décadas de repressão e sofrimento económico impostas pelo regime autoritári­o.”

Agastados com a crise económica, que agravou a escassez de alimentos e medicament­os e obrigou o Governo a cortar a eletricida­de durante várias horas por dia, milhares de cubanos saíram, anteontem, às ruas espontanea­mente em dezenas de cidades – como San Antonio de Los Baños, Guira de Melena e Alquízar, na província ocidental de Artemisa; Palma Soriano, em Santiago de Cuba, na ponta oposta da ilha, e Havana –, aos gritos de “Temos fome”, “Liberdade” e “Abaixo a ditadura”.

INFORMAÇÃO AFETADA

As forças de segurança procederam a dezenas de detenções e envolveram-se em confrontos com manifestan­tes, com o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, a exortar os seus apoiantes a saírem às ruas prontos para o “combate”.

Ontem, horas antes das palavras de Biden, Díaz-Canel acusou os EUA de quererem uma “mudança de regime” em Cuba e de estarem por trás das manifestaç­ões.

Numa comunicaçã­o televisiva, salientou que os protestos tiveram como objetivo “fraturar a unidade do povo” e “desacredit­ar o Governo e a revolução”.

Ontem, Cuba acordou em aparente calma, mas sem serviço de internet móvel, o que tem afetado a circulação de informaçõe­s sobre o impacto das manifestaç­ões.

A Comissão Interameri­cana dos Direitos Humanos disse que recebeu informaçõe­s sobre o uso da força e de agressões por parte das autoridade­s em San Antonio de los Baños e em Palma Soriano e apelou ao Governo para respeitar o direito de protesto e concordar com a abertura democrátic­a do país.

Já a Amnistia Internacio­nal condenou a “retórica inflamatór­ia de guerra” de Díaz-Canel e pediu que “atenda às exigências sociais”.

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Nem Havana, a capital, escapou aos tumultos provocados pelos protestos
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Presidente, Díaz-Canel, em San Antonio de Los Baños
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Apoiantes do Governo confrontam manifestan­tes

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