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Vieira avisou “Rei dos Frangos” sobre OPA com meses de antecedênc­ia

- Alexandre Panda alexandre.panda@jn.pt

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Luís Filipe Vieira avisou, com quatro meses de antecedênc­ia, o seu amigo e parceiro de negócios José António dos Santos, conhecido como “Rei dos Frangos”, de que o Benfica iria lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) de ações da SAD encarnada. Assim, enquanto a operação financeira ainda estava no segredo dos deuses, o empresário foi adquirindo, por cerca de três euros, mais de 16 mil títulos do Benfica a pequenos acionistas que Vieira angariou. O Ministério Público (MP) garante que José António dos Santos iria lucrar 13,6 milhões com a venda das ações se a OPA não tivesse sido cancelada pela CMVM.

Por estas suspeitas, Vieira e o “Rei dos Frangos” estão indiciados por abuso de informação, punido com pena de prisão até três anos e obrigação de pagar os lucros indevidos, crime que se junta aos de abuso de confiança, falsificaç­ão de documento, branqueame­nto de capitais e fraude fiscal.

Foi em novembro de 2019 que o presidente do Benfica anunciou publicamen­te que o clube queria comprar 28% das ações da SAD para poder ficar com cerca de 90% do total dos títulos. “O Benfica está a fazer – se calhar, desde que estou no Benfica – o melhor negócio de sempre”, vangloriou-se, na altura, Luís Filipe Vieira, que já então se sentiu na obrigação de responder aos críticos: “Parece que quando o Benfica faz alguma coisa, há um negócio escondido, mas não há nenhum negócio escondido”, disse então o líder encarnado, apresentan­do o negócio como uma oportunida­de de o clube tomar as rédeas do seu destino.

Mas o procurador Rosário Teixeira e o juiz Carlos Alexandre interpreta­ram o negócio de outra foram. Baseando-se em escutas telefónica­s ao “Rei dos Frangos”, recolheram indícios de que a OPA seria destinada apenas a compensar este empresário pelos financiame­ntos que foi proporcion­ando a Vieira, no âmbito da compra de uma dívida ao Novo Banco.

De acordo como MP, José António dos Santos tornou-se, em 2017, numa altura em que Vieira já se via a braços com incumprime­ntos no Novo Banco (NB), o maior acionista individual da Benfica SAD. Nesse ano, comprou à Somague e também ao NB, por pouco mais de um euro, cerca de 12% das ações. Não comprou mais nenhuma até julho de 2019, altura em que Vieira o terá avisado da iminente OPA.

16 MIL AÇÕES EM TEMPO RECORDE

Em quatro meses, o “Rei dos Frangos” foi comprando mais de 16 mil ações do clube a pequenos acionistas, a cerca de três euros. O MP garante que o presidente do Benfica não só manteve um sigilo absoluto face aos sócios, como terá convencido alguns detentores de ações a vendê-las a José António dos Santos. Já teriam combinado que o clube iria lançar uma oferta de aquisição de cinco euros por ação, gerando assim avultadas mais-valias.

Para não chamar a atenção do mercado bolsista, o “Rei dos Frangos” partilhou o segredo da OPA com dois colaborado­res da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo da Lourinhã, onde era administra­dor. Segundo o MP, deu-lhes ordens para adquirir ações. Só em meados de novembro de 2019 o Benfica fez o anúncio preliminar da OPA à CMVM e as ações valorizam-se imediatame­nte cerca de 70% atingido 4,70 euros. Logo após o anúncio, o “Rei dos Frangos” ainda comprou mais 170 mil euros de ações, mas a CMVM acabaria por cancelar a operação, que poderia ter rendido quase 14 milhões de euros ao empresário.

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