Vida nova para biblioteca a rebentar pelas costuras
Plano de 2017 de Souto Moura foi retomado e promete resolver falta de espaço, mas ainda não há projeto de execução ou estudo prévio. Doações estão a ser recusadas
Acervo literário em caixotes por falta de espaço, zonas de consulta transferidas de local para dar lugar a outras mais procuradas pelos utentes que circulam por salas e corredores hoje pouco atrativos. É assim a Biblioteca Municipal do Porto, cujos processos de requalificação têm ocorrido a conta-gotas ou sido adiados devido a diversas vicissitudes. A autarquia apresenta agora o programa-base do projeto, assinado pelo arquiteto Eduardo Souto Moura, e promete que desta será de vez.
A grande novidade da obra é a construção de uma torre que irá resolver o défice de espaço de armazenamento de livros e de outro tipo de espólio. A falta de espaço na Biblioteca Pública Municipal do Porto, ali instalada desde 1843, não é de agora. O certo é que, mesmo com os constrangimentos a aumentar nos últimos 50 anos, pouco ou nada foi feito, além da obra realizada em 1994, de criação de uma biblioteca infantil e de um auditório, também com desenho de Souto Moura.
O serviço prestado ao utente nunca foi posto em causa mas o espaço exíguo não deixa de provocar constrangimentos ao funcionamento dos dois serviços técnicos da Biblioteca. Exemplo disso foi a transferência da hemeroteca (consulta de periódicos) para a ala onde funciona as monografias “no sentido de se ganhar espaço”, explicou ao JN fonte ligada ao processo.
SEM ESPAÇO PARA DOAÇÕES
O espaço libertado pelas coleções de jornais passou a acolher as obras mais solicitadas. Paralelamente, os livros menos pedidos, como os manuais escolares da primeira metade do século XX, passaram para o depósito da Biblioteca Almeida Garrett. Pois nem no “barracão”, como é designado o maior depósito em São Lázaro, há espaço para receber doações de particulares, que tem sido recusadas.
Com as futuras obras, este “barracão” ficará ligado por túnel ao edifício principal e zonas de depósito, como o pavilhão “Barata Feyo”, serão demolidas para facilitar o acesso, pela Avenida de Rodrigues de Freitas, a uma área de lazer com jardim e esplanada, de quem quiser entrar para tomar um café ou uma refeição, sem obrigatoriedade de consulta de obras.
O grande depósito à superfície, junto à Rua de Morgado Mateus, a tal torre, com um piso subterrâneo, acolherá a maior parte do espólio da biblioteca pública, sobretudo do património do terceiro andar do edifício clássico.
Obras que a Câmara Municipal do Porto assume não ficarem baratas.
O orçamento inicialmente inscrito apontava para 12 milhões de euros. Agora o investimento previsto é de 17,2 milhões de euros, mas Souto Moura já alertou para o aumento de cerca de 30% do preço dos materiais de construção. “Só o alumínio que pretendo utilizar aumentou 70%”, disse na recente apresentação feita na autarquia.
E depois há os atrasos. O projeto esteve condicionado nove meses à espera de uma decisão do Tribunal de Contas, que considerava existirem “direitos de autor” passados e defendia o lançamento de um concurso público, por oposição a um ajuste direto. Depois a pandemia também não ajudou. O arquiteto diz que só depois de feito o estudo prévio e analisadas as opções técnicas será possível avançar com um orçamento “mais rigoroso”.