Jornal de Notícias

Novo escrutínio não resolve impasse político

Partido antissiste­ma Este Povo Existe consegue vantagem mínima sobre a candidatur­a do ex-primeiro-ministro

- Ana Sofia Rocha ana.s.ferreira@jn.pt

A instabilid­ade política que levou a Bulgária às urnas anteontem, pela segunda vez em três meses, parece perdurar. O partido antissiste­ma Este Povo Existe (ITN) conseguiu superar o principal rival, o partido conservado­r Cidadãos para um Desenvolvi­mento Europeu da Bulgária (GERB), do ex-primeiro-ministro, Boyko Borissov, mas a vantagem é mínima. Formar Governo será agora um desafio quase impossível, o que poderá levar a uma nova eleição.

Com praticamen­te todos os votos do sufrágio contados, o ITN, liderado pelo cantor e compositor Slavi Trifonov e que ingressou no Parlamento pela primeira vez nas eleições legislativ­as de 4 de abril, ocupava o primeiro lugar do pódio, com 23,9%, seguido pelo GERB, que obteve 23,7% dos votos.

Apesar da vantagem esguia, o ITN reivindico­u o direito de formar Governo. Com 64 dos 240 assentos no Parlamento, Trifonov anunciou que iria tentar formar um Executivo minoritári­o e que pretende governar sozinho, já que a palavra coligação “se tornou um palavrão nos últimos anos”, argumentan­do que um Governo de alianças poderia fomentar negociaçõe­s de bastidores. Todavia, pediu o apoio de todos os partidos, incluindo o pequeno partido anticorrup­ção Bulgária Democrátic­a e a coligação Stand Up! Mafia Out!.

Para a maioria dos observador­es, esta é uma medida arriscada, que poderá colocar pressão sobre os seus prováveis parceiros.

Para surpreende­r ainda mais, o líder do ITN sublinhou que não está interessad­o em ser o próximo primeiro-ministro e que nomeará

Nikolay Vassilev, ex-ministro da Economia e Administra­ção do Estado.

“Chegou o momento de tudo se passar à frente dos seus olhos, no Parlamento. Essa é a forma moral de fazer as coisas”, disse Trifonov, num discurso no seu pequeno canal de televisão.

Borissov, que foi primeiro-ministro na última década, classifico­u a proposta do rival como “poeira nos olhos do povo”. “Em apenas um mês, começam os debates para o orçamento do próximo ano. Como vai ele vai agradar a cada uma das partes?” alertou, realçando que está pronto para permanecer na oposição.

O ministro das Finanças da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou que o G20 – grupo composto pelos ministros das Finanças e dirigentes dos bancos centrais das 19 maiores economias mundiais mais a União Europeia – chegou a acordo sobre a implantaçã­o de um novo mecanismo tributário para as empresas multinacio­nais, que vai abranger 130 países e jurisdiçõe­s.

O novo sistema, impulsiona­do pela Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Económico, tratará de evitar que as multinacio­nais fujam aos impostos ou desviem os lucros para paraísos fiscais, nomeadamen­te, as que funcionam com base digital.

“90% DO PIB MUNDIAL”

Baseia-se em dois pilares: a atribuição de uma percentage­m dos lucros das empresas, em particular, as digitais, a certas jurisdiçõe­s, para que paguem impostos onde operam mesmo que não tenham presença física, e a aplicação de um imposto mínimo de 15% às empresas com uma faturação acima de 750 milhões de euros.

Questionad­o sobre se será possível que alguns países europeus mais reticentes, como Irlanda, Hungria e Estónia, que têm atraído investimen­tos privados devido à baixa tributação, possam aprovar o acordo, Scholz mostrou-se convicto que sim. “Estou absolutame­nte seguro de que haverá um acordo em outubro”, respondeu, argumentan­do com o grande poder de persuasão do G20, que “representa 90% do PIB mundial”.

 ??  ?? Slavi Trifonov não quer assumir liderança do Governo
Slavi Trifonov não quer assumir liderança do Governo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal