Novo escrutínio não resolve impasse político
Partido antissistema Este Povo Existe consegue vantagem mínima sobre a candidatura do ex-primeiro-ministro
A instabilidade política que levou a Bulgária às urnas anteontem, pela segunda vez em três meses, parece perdurar. O partido antissistema Este Povo Existe (ITN) conseguiu superar o principal rival, o partido conservador Cidadãos para um Desenvolvimento Europeu da Bulgária (GERB), do ex-primeiro-ministro, Boyko Borissov, mas a vantagem é mínima. Formar Governo será agora um desafio quase impossível, o que poderá levar a uma nova eleição.
Com praticamente todos os votos do sufrágio contados, o ITN, liderado pelo cantor e compositor Slavi Trifonov e que ingressou no Parlamento pela primeira vez nas eleições legislativas de 4 de abril, ocupava o primeiro lugar do pódio, com 23,9%, seguido pelo GERB, que obteve 23,7% dos votos.
Apesar da vantagem esguia, o ITN reivindicou o direito de formar Governo. Com 64 dos 240 assentos no Parlamento, Trifonov anunciou que iria tentar formar um Executivo minoritário e que pretende governar sozinho, já que a palavra coligação “se tornou um palavrão nos últimos anos”, argumentando que um Governo de alianças poderia fomentar negociações de bastidores. Todavia, pediu o apoio de todos os partidos, incluindo o pequeno partido anticorrupção Bulgária Democrática e a coligação Stand Up! Mafia Out!.
Para a maioria dos observadores, esta é uma medida arriscada, que poderá colocar pressão sobre os seus prováveis parceiros.
Para surpreender ainda mais, o líder do ITN sublinhou que não está interessado em ser o próximo primeiro-ministro e que nomeará
Nikolay Vassilev, ex-ministro da Economia e Administração do Estado.
“Chegou o momento de tudo se passar à frente dos seus olhos, no Parlamento. Essa é a forma moral de fazer as coisas”, disse Trifonov, num discurso no seu pequeno canal de televisão.
Borissov, que foi primeiro-ministro na última década, classificou a proposta do rival como “poeira nos olhos do povo”. “Em apenas um mês, começam os debates para o orçamento do próximo ano. Como vai ele vai agradar a cada uma das partes?” alertou, realçando que está pronto para permanecer na oposição.
O ministro das Finanças da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou que o G20 – grupo composto pelos ministros das Finanças e dirigentes dos bancos centrais das 19 maiores economias mundiais mais a União Europeia – chegou a acordo sobre a implantação de um novo mecanismo tributário para as empresas multinacionais, que vai abranger 130 países e jurisdições.
O novo sistema, impulsionado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, tratará de evitar que as multinacionais fujam aos impostos ou desviem os lucros para paraísos fiscais, nomeadamente, as que funcionam com base digital.
“90% DO PIB MUNDIAL”
Baseia-se em dois pilares: a atribuição de uma percentagem dos lucros das empresas, em particular, as digitais, a certas jurisdições, para que paguem impostos onde operam mesmo que não tenham presença física, e a aplicação de um imposto mínimo de 15% às empresas com uma faturação acima de 750 milhões de euros.
Questionado sobre se será possível que alguns países europeus mais reticentes, como Irlanda, Hungria e Estónia, que têm atraído investimentos privados devido à baixa tributação, possam aprovar o acordo, Scholz mostrou-se convicto que sim. “Estou absolutamente seguro de que haverá um acordo em outubro”, respondeu, argumentando com o grande poder de persuasão do G20, que “representa 90% do PIB mundial”.