Calem-se, por favor, para podermos pensar
Temos sistematicamente demasiadas pessoas a falar, a falar, a falar...
Parece que têm a imperiosa necessidade de aparecerem, de nos dizerem que existem e que sabem imenso sobre a covid-19.
É este um fenómeno que já tem acontecido, nesta e em outros situações, com muito boa gente que está hoje bem esquecida. Vivemos num tempo em que não parece ser possível parar e pensar. E, ao falarem pelos cotovelos, evidentemente que se dizem e desdizem demasiadas vezes. Porventura, nós, seres humanos, ao nascermos com dois ouvidos e uma boca, talvez seja porque devemos ouvir mais e falar menos. Por um lado, temos uns quantos ministros que estão sempre a falar e a aparecer onde quer que lhes deem espaço. Por outro, há os das oposições, que nada têm para propor, pelo que aparecem apenas para dizer mal do que os outros disseram. Esta necessidade de falar, falar, falar, intervir, dar prova de vida, faz com que poucos ouçam. Perdeu-se a capacidade de escutar. Calar. Esperar. Pensar. Ouvir.
Vem a ministra da covid-19, sem poder ter certezas, como ninguém pode ter, e fala, fala, fala... Vem um e mais um e mais outro especialista em virologia ou em outra coisa qualquer, dar a sua opinião, que é contrariada pelo especialista seguinte e pelo que se lhe segue. Fala-se em excesso. Já não ninguém quer ouvir. Este tempo é demasiado complicado para todos, há demasiadas incertezas, pelo que estar sempre a dar palpites não contribui para melhorar o que quer que seja. Se se acha que a solução é vacinar, vacinar, vacinar, assim seja, mas faça-se isso o mais organizada e rapidamente possível. Nomearam uma pessoa para liderar o processo. Deixem essa pessoa trabalhar, senão é desnecessária. E, essa sim, pode falar, mas só sobre o que lhe compete. Todos os restantes falantes, por favor, calem-se! Por muito que lhes custe. Trabalhem. Pensem, descansem. O país agradece.
A. KÜTTNER DE MAGALHÃES aakuttner@gmail.com