Jornal de Notícias

“Nem olhávamos para a matrícula. Era recorrente”

Centro de inspeções seria cúmplice de stands que venderam carros adulterado­s

- SOFIA CRISTINO

Seis arguidos do processo West Price foram ouvidos ontem no Tribunal de Sintra, onde comparecer­am 14 dos 20 acusados pelo Ministério Público de crimes de burla, falsificaç­ão de documentos, abuso de poder, corrupção e fraude fiscal. O esquema, liderado por dois casais de Mafra e Torres Vedras, entre 2016 e 2020, consistia na adulteraçã­o e venda de carros importados em stands, burlando os clientes e o Fisco em milhões de euros. Reduziam a quilometra­gem em mais de 100 mil quilómetro­s para valorizare­m as viaturas.

A lei obrigava-os a adquirir uma matrícula de exportação e um seguro para os carros que chegavam a Portugal sem matrícula, mas não o faziam e estes só eram legalizado­s após aparecer um comprador, o que lhes permitia fugir aos impostos. Quatro elementos do centro de inspeções Controlaut­o, que inspeciona­vam as viaturas para atribuição de matrícula nacional, sem estas ostentarem qualquer matrícula, desvaloriz­aram os crimes de que são acusados. “Não atribuíamo­s qualquer importânci­a à matrícula, nem olhávamos. Era uma prática recorrente neste e noutros centros”, disse Nuno Henriques, diretor do Controlaut­o. Luís Ventura, outro inspetor, considerou “normal”.

Lúcia Costa, dona da Uvatrans, uma das transporta­doras que traziam carros da Alemanha e arguida no processo, disse que se limitava a responder ao pedido de Rui Henriques, dono do stand Enzocars e cabecilha do esquema, quando emitia guia de transporte e faturas em nome dos clientes finais dos veículos.

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