“Nem olhávamos para a matrícula. Era recorrente”
Centro de inspeções seria cúmplice de stands que venderam carros adulterados
Seis arguidos do processo West Price foram ouvidos ontem no Tribunal de Sintra, onde compareceram 14 dos 20 acusados pelo Ministério Público de crimes de burla, falsificação de documentos, abuso de poder, corrupção e fraude fiscal. O esquema, liderado por dois casais de Mafra e Torres Vedras, entre 2016 e 2020, consistia na adulteração e venda de carros importados em stands, burlando os clientes e o Fisco em milhões de euros. Reduziam a quilometragem em mais de 100 mil quilómetros para valorizarem as viaturas.
A lei obrigava-os a adquirir uma matrícula de exportação e um seguro para os carros que chegavam a Portugal sem matrícula, mas não o faziam e estes só eram legalizados após aparecer um comprador, o que lhes permitia fugir aos impostos. Quatro elementos do centro de inspeções Controlauto, que inspecionavam as viaturas para atribuição de matrícula nacional, sem estas ostentarem qualquer matrícula, desvalorizaram os crimes de que são acusados. “Não atribuíamos qualquer importância à matrícula, nem olhávamos. Era uma prática recorrente neste e noutros centros”, disse Nuno Henriques, diretor do Controlauto. Luís Ventura, outro inspetor, considerou “normal”.
Lúcia Costa, dona da Uvatrans, uma das transportadoras que traziam carros da Alemanha e arguida no processo, disse que se limitava a responder ao pedido de Rui Henriques, dono do stand Enzocars e cabecilha do esquema, quando emitia guia de transporte e faturas em nome dos clientes finais dos veículos.