Uma festa nunca perde pela demora
Os brasileiros, quer a gente queira quer não, têm coisas muitas engraçadas e outras muito bem-apanhadas. Um dos exemplos disto mesmo aconteceu no passado fim de semana em que no Rio de Janeiro se celebrou com toda a pompa e circunstância o Carnaval.
Como é fácil perceber, o Carnaval no Brasil segue normalmente as regras dos carnavais de todo o Mundo. Como sabemos, o Carnaval não tem data fixa, mas acontece sempre muito antes do mês de abril, regra geral em fevereiro, quando muito no início de março, como aliás aconteceu este ano com a terça-feira gorda no dia 1 de março. Os brasileiros, fartinhos que estão da pandemia, ainda estavam mais fartos de não terem as folias carnavalescas desde 2021 e se a contragosto conseguiram aguentar um ano sem festa no sambódromo, um segundo ano é que era mesmo impossível.
Aliás, esta realização dos festejos canavalescos fora das datas tradicionais já não é exemplo virgem por terras brasileiras, porque na região de Natal há muito que se celebra o Carnatal que é uma espécie de Carnaval em tempos natalícios. Devo confessar que tenho um particular apreço por quem gosta de fazer da vida uma festa e dou especial valor que, nos tempos em que as festas são mais escassas, as pessoas, as organizações e os países deem largas à sua criatividade e imaginação para tentar fazer a festa sempre que possível.
Recordo-me, aliás, que neste nosso JN também cheguei a propor, infelizmente sem nenhum sucesso, que o S. João, que não foi possível festejar condignamente na noite de 23 para 24 de junho no meio da pandemia, pudesse ter sido organizado num sábado de setembro.
Se há coisa que estes tempos conturbados dos últimos anos nos deviam ter ensinado é que a noção do tempo que passa e a necessidade de vivermos a vida em cada dia é uma urgência cada vez mais inadiável. Quero com isto dizer que
Tenho um particular apreço por quem gosta de fazer da vida uma festa e dou especial valor que, nos tempos em que as festas são mais escassas, as pessoas, as organizações e os países deem largas à sua criatividade e imaginação para tentar fazer a festa sempre que possível
aquilo que não vivemos hoje é garantido que não podemos viver amanhã. Mas não é menos verdade que aquilo que estávamos habituados a viver numa determinada data nada perde se tivermos a vontade e a ousadia de o reinventarmos numa nova data.
Tenho constatado em conversa com muitos amigos que todos “sofremos” de uma “amnésia” comum que vou tentar explicar sucintamente. Sempre que me quero lembrar quando é que foi a última vez que fiz uma determinada coisa ou estive num determinado lugar, fico sempre com a impressão de que isso aconteceu há dois anos e depois verifico que afinal foi em 2019 e, portanto, há três anos. Não sou especialista na matéria, mas estou convencido que no nosso inconsciente estes dois anos de pandemia nos fizeram perder um ano de vida nas nossas alegrias, nos nossos compromissos, no nosso trabalho e nas nossas memórias. Recuperar é viver.