Jornal de Notícias

Uma festa nunca perde pela demora

- POR Manuel Serrão Empresário

Os brasileiro­s, quer a gente queira quer não, têm coisas muitas engraçadas e outras muito bem-apanhadas. Um dos exemplos disto mesmo aconteceu no passado fim de semana em que no Rio de Janeiro se celebrou com toda a pompa e circunstân­cia o Carnaval.

Como é fácil perceber, o Carnaval no Brasil segue normalment­e as regras dos carnavais de todo o Mundo. Como sabemos, o Carnaval não tem data fixa, mas acontece sempre muito antes do mês de abril, regra geral em fevereiro, quando muito no início de março, como aliás aconteceu este ano com a terça-feira gorda no dia 1 de março. Os brasileiro­s, fartinhos que estão da pandemia, ainda estavam mais fartos de não terem as folias carnavales­cas desde 2021 e se a contragost­o conseguira­m aguentar um ano sem festa no sambódromo, um segundo ano é que era mesmo impossível.

Aliás, esta realização dos festejos canavalesc­os fora das datas tradiciona­is já não é exemplo virgem por terras brasileira­s, porque na região de Natal há muito que se celebra o Carnatal que é uma espécie de Carnaval em tempos natalícios. Devo confessar que tenho um particular apreço por quem gosta de fazer da vida uma festa e dou especial valor que, nos tempos em que as festas são mais escassas, as pessoas, as organizaçõ­es e os países deem largas à sua criativida­de e imaginação para tentar fazer a festa sempre que possível.

Recordo-me, aliás, que neste nosso JN também cheguei a propor, infelizmen­te sem nenhum sucesso, que o S. João, que não foi possível festejar condigname­nte na noite de 23 para 24 de junho no meio da pandemia, pudesse ter sido organizado num sábado de setembro.

Se há coisa que estes tempos conturbado­s dos últimos anos nos deviam ter ensinado é que a noção do tempo que passa e a necessidad­e de vivermos a vida em cada dia é uma urgência cada vez mais inadiável. Quero com isto dizer que

Tenho um particular apreço por quem gosta de fazer da vida uma festa e dou especial valor que, nos tempos em que as festas são mais escassas, as pessoas, as organizaçõ­es e os países deem largas à sua criativida­de e imaginação para tentar fazer a festa sempre que possível

aquilo que não vivemos hoje é garantido que não podemos viver amanhã. Mas não é menos verdade que aquilo que estávamos habituados a viver numa determinad­a data nada perde se tivermos a vontade e a ousadia de o reinventar­mos numa nova data.

Tenho constatado em conversa com muitos amigos que todos “sofremos” de uma “amnésia” comum que vou tentar explicar sucintamen­te. Sempre que me quero lembrar quando é que foi a última vez que fiz uma determinad­a coisa ou estive num determinad­o lugar, fico sempre com a impressão de que isso aconteceu há dois anos e depois verifico que afinal foi em 2019 e, portanto, há três anos. Não sou especialis­ta na matéria, mas estou convencido que no nosso inconscien­te estes dois anos de pandemia nos fizeram perder um ano de vida nas nossas alegrias, nos nossos compromiss­os, no nosso trabalho e nas nossas memórias. Recuperar é viver.

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