A União Europeia foi a votos
eleições nacionais em alguns estados da UE começam a ser vistas como uma espécie de referendo à própria ideia de União. Em alguns casos, como na Hungria, são apenas um indicador de uma onda mais a favor ou mais contra políticas ou valores europeus. Em outros, como foi o caso das eleições francesas este domingo, sentimos que foi a própria União que foi a votos.
Desta vez venceu a UE. No entanto, a nossa preocupação não pode esmorecer quando 41,5% dos franceses votam do lado contrário ao vencedor, o que, entre outras escolhas, significou votar contra a UE. Como é possível que isso tenha acontecido exatamente depois de uma crise em que a UE esteve à altura do que esperávamos dela? Ultrapassou tabus, como o do endividamento próprio, mobilizou recursos, subsidiou a manutenção do emprego, flexibilizou o uso dos fundos europeus, comprou equipamentos e vacinas em conjunto e até tirou lições para reforçar os investimentos europeus em setores estratégicos como os medicamentos ou os semicondutores. O que explica este ressentimento de quase metade dos franceses, não apenas em relação a Macron, mas também, indiretamente, em relação à integração europeia?
Se não temos as respostas, temos a obrigação de as procurar com um enorme sentido de urgência. Talvez seja difícil enfrentar o imobilismo conservador ou os que querem fechar o seu país a quem é diferente de um francês original, seja lá isso o que for, mas tem de ser possível responder melhor aos jovens que protestam contra a precariedade do seu emprego ou contra a falta dele.
Ter a França do nosso lado, mais empenhada no reforço da Europa social, é fundamental para o suAs cesso dessa resposta. Seria impensável imaginar que a UE pudesse sobreviver a um “Frexit” no mesmo formato em que a conhecemos hoje. Contudo, como lembrou o presidente Macron, é igualmente impossível assegurar a soberania a França, em áreas como a energia, a tecnologia, a defesa ou a segurança alimentar, sem a União Europeia.
PS
Esta é a última contribuição na minha coluna “Fora da Bolha”, que iniciei em julho de 2021, de forma gratuita, a convite do “Jornal de Notícias”. Por razões de politica editorial, a direção do JN decidiu interromper esta e outras colaborações de pessoas que ocupam cargos políticos. Agradeço ao JN o espaço que me foi disponibilizado e a todos os leitores a atenção dispensada, esperando ter contribuído, pelo menos de vez em quando, para a tradução em linguagem acessível do que se passa nas instituições europeias, como me propus no primeiro artigo aqui publicado.
A nossa preocupação não pode esmorecer quando 41,5% dos franceses votam do lado contrário ao vencedor, o que, entre outras escolhas, significou votar contra a UE