Jornal de Notícias

A União Europeia foi a votos

- POR Maria Manuel Leitão Marques Eurodeputa­da do PS

eleições nacionais em alguns estados da UE começam a ser vistas como uma espécie de referendo à própria ideia de União. Em alguns casos, como na Hungria, são apenas um indicador de uma onda mais a favor ou mais contra políticas ou valores europeus. Em outros, como foi o caso das eleições francesas este domingo, sentimos que foi a própria União que foi a votos.

Desta vez venceu a UE. No entanto, a nossa preocupaçã­o não pode esmorecer quando 41,5% dos franceses votam do lado contrário ao vencedor, o que, entre outras escolhas, significou votar contra a UE. Como é possível que isso tenha acontecido exatamente depois de uma crise em que a UE esteve à altura do que esperávamo­s dela? Ultrapasso­u tabus, como o do endividame­nto próprio, mobilizou recursos, subsidiou a manutenção do emprego, flexibiliz­ou o uso dos fundos europeus, comprou equipament­os e vacinas em conjunto e até tirou lições para reforçar os investimen­tos europeus em setores estratégic­os como os medicament­os ou os semicondut­ores. O que explica este ressentime­nto de quase metade dos franceses, não apenas em relação a Macron, mas também, indiretame­nte, em relação à integração europeia?

Se não temos as respostas, temos a obrigação de as procurar com um enorme sentido de urgência. Talvez seja difícil enfrentar o imobilismo conservado­r ou os que querem fechar o seu país a quem é diferente de um francês original, seja lá isso o que for, mas tem de ser possível responder melhor aos jovens que protestam contra a precarieda­de do seu emprego ou contra a falta dele.

Ter a França do nosso lado, mais empenhada no reforço da Europa social, é fundamenta­l para o suAs cesso dessa resposta. Seria impensável imaginar que a UE pudesse sobreviver a um “Frexit” no mesmo formato em que a conhecemos hoje. Contudo, como lembrou o presidente Macron, é igualmente impossível assegurar a soberania a França, em áreas como a energia, a tecnologia, a defesa ou a segurança alimentar, sem a União Europeia.

PS

Esta é a última contribuiç­ão na minha coluna “Fora da Bolha”, que iniciei em julho de 2021, de forma gratuita, a convite do “Jornal de Notícias”. Por razões de politica editorial, a direção do JN decidiu interrompe­r esta e outras colaboraçõ­es de pessoas que ocupam cargos políticos. Agradeço ao JN o espaço que me foi disponibil­izado e a todos os leitores a atenção dispensada, esperando ter contribuíd­o, pelo menos de vez em quando, para a tradução em linguagem acessível do que se passa nas instituiçõ­es europeias, como me propus no primeiro artigo aqui publicado.

A nossa preocupaçã­o não pode esmorecer quando 41,5% dos franceses votam do lado contrário ao vencedor, o que, entre outras escolhas, significou votar contra a UE

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