Famílias de Lisboa protestam contra “despejos violentos”
Ocupavam ilegalmente casas “há anos” nas Olaias e queixam-se de serem obrigadas a sair sem alternativa
Cinco famílias, com 10 crianças, do Bairro Carlos Botelho, nas Olaias, em Lisboa, manifestaram-se ontem em frente à Câmara de Lisboa contra os “despejos ilegais muito violentos” de que se dizem vítimas. Viviam em casas municipais ocupadas ilegalmente sem pagarem renda há vários anos por, segundo elas, não terem alternativa habitacional. “Direito à habitação está na constituição” e “queremos pagar renda” foram algumas das palavras de ordem gritadas.
Nadine Veloso, 27 anos, com três filhos, de 4, 7 e 9 anos, tem vivido em casa de familiares desde que foi despejada de uma habitação municipal, onde morava desde 2009. “A casa era do meu padrinho e sempre paguei renda, mas depois de ele falecer, há sete anos, deixei de pagar. Desde então estou a tentar legalizar a situação com a Gebalis (Gestão do Arrendamento da Habitação Municipal de Lisboa),
mas ainda não consegui”, explica.
Na terça-feira passada recebeu uma notificação de ordem de despejo, que considera ilegal. “Têm de nos dar alternativas habitacionais e a única que foi dada foi um albergue, com sem-abrigo, para onde não vou levar as crianças”.
Mónica Luciano, o marido e a filha de 3 anos, também foram obrigados a sair da casa municipal onde viviam há cinco anos. A habitação era do tio-avô do marido de Mónica e após o falecimento do inquilino continuaram a viver lá. “Queremos pagar renda e já pedimos várias vezes para regularizarem a situação, mas não o fizeram. A Gebalis diz que estamos numa casa arrombada, mas achamos que não porque era de um familiar”, considera Mónica. “Colocaram-nos na rua sem alternativas. Tiraram tudo à frente da minha filha que está traumatizada”, critica ainda.
Carlota Monini, da associação Habita, diz que “são famílias com um rendimento extremamente baixo, que não chega aos 1000 euros, que todos os anos concorrem aos concursos da Câmara de Lisboa sem sucesso, algumas há décadas que estão em listas de espera. Ninguém ocupa uma casa por diversão, mas por falta de alternativa habitacional”, defende, acrescentando que estas habitações “não são confortáveis” e “estão profundamente degradadas”.
6000 À FRENTE, DIZ CÂMARA
Questionada pelo BE sobre os despejos, a vereadora da Habitação da Câmara, Filipa Roseta, assegurou ontem que “é absolutamente falso” a ausência de apoio social no despejo das cinco famílias, das quais três têm candidaturas em curso para atribuição de casa. Não têm, porém, pontuação suficiente, pelo que a ocupação abusiva é “passar à frente” das cerca de 6000 pessoas que estão à espera de habitação, acrescentou.
Relativamente à atuação da Polícia de Segurança Pública durante os despejos, Filipa Roseta reforçou que “não foi a Câmara que chamou 50 agentes da PSP, nem a Gebalis”.