Jornal de Notícias

“A minha função é entreter o leitor”

Richard Osman Autor de “O clube do crime das quintas-feiras” regressa com “O homem que morreu duas vezes”

- POR Sérgio Almeida sergio@jn.pt

De popular apresentad­or televisivo em Inglaterra a nova estrela global do firmamento literário. Foi este o improvável trajeto de Richard Osman, autor de “O clube do crime das quintas-feiras”, livro que vendeu cinco milhões de exemplares em todo o Mundo – quase 20 mil em Portugal – e vai ser adaptado ao cinema por Steven Spielberg. Em conversa com o “Jornal de Notícias” a propósito do novo livro, “O homem que morreu duas vezes”, Osman afirma que a escrita veio para ficar na sua vida. Quer venda milhões ou não.

Qual a sensação de ser uma dupla celebridad­e? É conhecido há muito pelo seu percurso televisivo e agora também pelos livros que escreve.

É verdade que em Inglaterra as pessoas se habituaram a ver-me na televisão e, por isso, abordam-me muito na rua. Ultimament­e, as pessoas abordam-me mais para falar dos meus livros. Mas o que me agrada mais é que, em países como os Estados Unidos, Portugal ou Alemanha, as pessoas não me conheciam de todo e mesmo assim têm lido os meus livros.

Como é que assimilou o impacto tremendo do livro?

Acabei por ter bastante sorte, porque escrevi o segundo livro antes de o primeiro ser publicado. Caso contrário, ficaria impossível de aturar. Agora estou mais confiante e lido melhor com o êxito, que me permite conhecer novas pessoas e viajar por diferentes países.

Está a escrever o terceiro livro agora. Saber que tem muita gente à espera muda algo?

Gostava de dizer que nada mudou, mas não é bem assim. Tento ignorar o que as pessoas me dizem quando me encontram na rua para falar de uma personagem ou de um elemento da narrativa, mas nem sempre é fácil.

Quando pensamos em detetives-heróis, não pensamos em quatro simpáticos velhinhos. Esse caráter insólito ajudou?

Creio que sim. O livro é sobre toda a gente. Em Inglaterra, há uma fatia de pessoas que é quase invisível aos olhos de todos. E tendemos a subestimá-las, achando que não são lá muito espertas. Ora, essas duas caracterís­ticas são perfeitas para quem quer ser detetive. Podem agir a seu bel-prazer pois ninguém acredita que são capazes de deslindar casos de mistério.

Estes livros são uma apologia ao envelhecim­ento ativo?

A velhice não tem de ser passada em frente à televisão. Podemos ter 75 anos e mantermo-nos ativos como se tivéssemos 25, conhecendo novas pessoas e mantendo vários interesses.

A televisão e a literatura são muito diferentes, mas em ambos parece procurar uma certa familiarid­ade. É mesmo assim?

É algo muito natural em mim. Como produtor e apresentad­or de TV, tenho perfeita noção de que as pessoas podem mudar de canal quando quiserem. Por isso, procuro certificar-me de que algo excitante está sempre a acontecer. Nos meus livros, os capítulos são curtos e a sensação de se estar perto do precipício é frequente. Gosto de autores que são génios da escrita, mas também os que provocam a vontade de virarmos a página rapidament­e. Como autor, a minha função é entreter o leitor.

Antes de ter alcançado o êxito, teve projetos que falharam. Em que sentido foram importante­s para o reconhecim­ento posterior que acabou por ter?

Quando estava nos meus 20 anos, escrevi uma série televisiva que não resultou e, em consequênc­ia disso, parei de escrever e virei-me para a produção. Foi difícil recuperar. Precisei de 25 anos para voltar à escrita. Sabia que era o que eu gostava de fazer, mas na altura não desisti. A vida está cheia de falhanços. O mais importante é saber como reagimos a esses reveses. ●

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“Agora estou mais confiante e lido melhor com o êxito”

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