Jornal de Notícias

Aprender a viver com a verdade

- Por João Antunes Crítico

Aos 38 anos, Jonas Carpignano é um dos nomes emergentes de um cinema italiano que, aos poucos e em função dos novos tempos, recupera um lugar que já foi seu, como dos mais vistos, adorados e influentes do panorama internacio­nal.

Nascido em Nova Iorque e com uma vivência entre os Estados Unidos e Itália, de onde a família é originária, Carpignano fez o percurso das curtas-metragens até assinar em 2015 a primeira longa, “Mediterrân­ea”. Sundance e Cannes fizeram descobrir esta história de dois refugiados africanos, chegados ao porto de Gioia Tauro, na Calábria, e confrontad­os com a realidade local. Seguiu-se “A Ciambra”, centrado num garoto de 14 anos da comunidade cigana da Calábria.

“A Chiara”, chegado da Quinzena dos Realizador­es de Cannes, conclui esta trilogia da Calábria. Embora haja conexões entre os filmes, através de algumas personagen­s, todos eles podem ser vistos em separado. Assim é com esta derradeira entrada de um tríptico que, afinal, poderá não ficar por aqui.

Desta vez, a personagem central é Chiara, uma miúda de 15 anos que conhecemos no ginásio e na escola com as colegas, antes da grande cena do aniversári­o da irmã mais velha, que completa 18 anos. É aí que percebemos a profunda relação de cumplicida­de de Chiara com o pai, um homem que se emociona quando se recusa a fazer um discurso de agradecime­nto.

É que Claudio, esta figura paternal tão importante para Chiara, tem um “trabalho” que a filha não podia imaginar, ou que, como a mãe lhe diz, não poderia compreende­r. Chiara descobre no dia seguinte que o pai é procurado pela Polícia, acusado de tráfico de droga e de pertencer à máfia local, a Ndrangheta.

Vamos então acompanhar Chiara na descoberta de si própria, do que é e do que quer ser, do seu lugar num mundo de que não tinha ainda descoberto a natureza. “A Chiara” é uma bela história de cresciment­o, com um tom naturalist­a acentuado por uma câmara à mão, sempre próxima das personagen­s, e pela presença radiante de Swamy Rotolo, uma descoberta local de Carpignano. Nasceu uma estrela?

A Chiara

JONAS CARPIGNANO 2021

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Uma bela história de cresciment­o em tom naturalist­a

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