Máquina zero
Não foi um acaso, nem inocente, nem apenas um cravo na lapela, o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa no 25 de Abril centrado na necessidade de valorizar as Forças Armadas. O alerta do presidente da República exprime o despertar europeu na madrugada de 24 de fevereiro, com a invasão da Ucrânia e a erosão da segurança de diversas gerações europeias que só conheciam a paz e a democracia.
Durante as últimas décadas, o Velho Continente satisfez as suas necessidades energéticas em negócios, liderados pela Alemanha e pela França, com o regime de Putin, enquanto contava com os contribuintes americanos para assumirem a fatura da nossa defesa comum no âmbito da Aliança Atlântica. A vulnerabilidade europeia em ambas as frentes está agora exposta. E este será o momento em que a opinião pública tem claro que por vezes são precisas armas para defender as nossas democracias.
Os desafios contemporâneos que Portugal enfrenta são, no entanto, substantivamente diferentes dos que enfrentámos durante a Guerra Colonial. Não temos territórios “ultramarinos”, mas continuamos com a maior Zona Económica Exclusiva europeia, pelo que a disposição de recursos deverá ter em conta quer as características da nossa posição geográfica, quer os nossos compromissos internacionais. Antes do investimento, talvez fosse prudente saber que Forças Armadas ambicionamos e que missão devem servir. Grande parte dos países da NATO (Portugal incluído) não atingiram o investimento acordado de 2% do PIB em 2021. A madrugada de 24 de fevereiro marca o início da necessidade da Europa em reforçar substancialmente a despesa em defesa militar, mas também de ampliar a vitalidade da Aliança Atlântica. A questão que se coloca agora, aos portugueses e aos europeus, é objetiva mas delicada. De que parcela do Estado social estão dispostos a abdicar para reforçar a defesa militar das nossas democracias?