A juventude de Balsemão
O apoio de Francisco Pinto Balsemão a Jorge Moreira da Silva não é uma simples carta de recomendação aos militantes para as próximas eleições internas no partido. O antigo primeiro-ministro, fundador e militante “número 1” do PSD, ao contrário do que fez no passado recente com o apoio a Rui Rio, não se limita à teoria e passa à prática. Ao aceitar ser o mandatário nacional da candidatura de Jorge Moreira da Silva, Balsemão dá o braço ao candidato para fazer caminho, deixa a marca e o aviso à navegação: não será sem renovação que o PSD responderá ao país e poderá recuperar o eleitorado que perdeu ao centro e à sua direita. Quando apoiou Rui Rio contra Santana Lopes (em 2018) e contra Luís Montenegro (em 2020), nunca o fez com a implicação deste momento. E é paradigmático que o faça quando o PSD não tem, a curto prazo e com a maioria estabelecida do PS, qualquer vislumbre de poder pela frente. Subitamente, Francisco Pinto Balsemão aparenta ser o mandatário nacional da Juventude do PSD.
Há um toque de “déjà vu” na corrida eleitoral laranja que culminará nas directas de 28 de Maio. À semelhança do que sucedeu com Paulo Rangel, também Luís Montenegro parece sair com vantagem da casa de partida. Considerado, por muitos militantes, como o mais bem preparado para o momento político actual, Montenegro tem do seu lado a maioria das estruturas distritais. Ao seu lado, apresenta-se também o passado de anos na táctica da sombra, tentativas de tomada de poder e o saldo interno, ainda por contabilizar e controverso, do seu peso específico na derrota de Paulo Rangel. Jorge Moreira da Silva também não vem a jogo sem rodagem. O antigo ministro do Ambiente de Pedro Passos Coelho escolheu Carlos Eduardo Reis para director de campanha e, com isso, tenta ressuscitar e acolher a máquina que conseguiu a eleição interna de Rui Rio. Para um “não basista”, a aposta num discurso que pretende “renovar o PSD” e reformar a política podia ser uma herança directa de Rio. Mas ao contrário do ainda líder do partido, Moreira da Silva aparenta ser inclusivo internamente e já traçou linhas vermelhas com a extrema-direita.
Demitindo-se do cargo de director-geral da Cooperação para o Desenvolvimento da OCDE, apresentando-se de mãos livres, Jorge Moreira da Silva ganhou peso político e afirmação. Lidera, agora, o capital de desprendimento. Encarou o partido como uma causa pública e terá a sua quota-parte de razão. Não é impossível – à semelhança de outros exemplos europeus – que face ao actual mapa político, o centro se consuma num PS hegemónico e os extremos do espectro ganhem maior peso. Assim sendo, um PSD tal como ele é e está seria substituível e negligenciável, condenado a ser uma sombra que lentamente avança e se consome, seco por um eucalipto rosa. Seria o fim do bipartidarismo que governou o país em democracia. Pensar este cenário como uma impossibilidade é um acto de negação. Agitando e bem, Balsemão não entrega o partido ao seu fim.