Jornal de Notícias

A missão (im)possível de Guterres

- Manuel Molinos POR Diretor-adjunto

O secretário-geral das Nações Unidas fez bem ao não esconder a emoção quando visitou algumas das cidades ucranianas mais massacrada­s pela guerra. E também fez bem quando a personaliz­ou. “Imagino a minha família numa dessas casas que estão agora destruídas e enegrecida­s. Vejo as minhas netas a correr em pânico”, disse à chegada a Borodyanka.

As declaraçõe­s podem parecer tardias, desfasadas no tempo. Porventura até podem servir aos críticos de António Guterres que o acusam de alguma inatividad­e no desenrolar desta guerra, indiferent­es à complexida­de diplomátic­a que este conflito impõe. Quando ao fim de dois meses de barbárie ainda há quem alimente os negacionis­tas das batalhas travadas dia após dia, as declaraçõe­s do líder da ONU fazem todo o sentido. Quando ainda existem partidos que votam contra um texto que pede uma investigaç­ão independen­te a eventuais crimes de guerra na Ucrânia, as declaraçõe­s são necessária­s. E, sim, o PCP é um deles e hoje mesmo vai opor-se à iniciativa de António Guterres para que se abra caminho para que os assassinos e seus mandantes possam ser julgados.

É quase uma garantia que a visita do líder das Nações Unidas à Rússia e à Ucrânia será classifica­da como fracasso, até porque o corredor humanitári­o para retirar pessoas da metalúrgic­a de Azovstal, em Mariupol, não irá acontecer hoje, como o secretário-geral da ONU desejava e chegou a perspetiva­r. É fácil aplaudir António Guterres quando é capa da “Time” por falar em alterações climáticas. Difícil é tentar perceber porque é que só agora se deslocou a Moscovo e a Kiev. Os motivos existirão. Há muitas maneiras de fazer os caminhos para a paz. Nem todos têm de ter uma câmara de filmar a tempo inteiro. Muito menos aqueles que podem salvar vidas e que evitam mais visitas a valas comuns.

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