Jornal de Notícias

Pais do bebé sem rosto pedem indemnizaç­ão

Processo contra obstetra e clínica onde foram feitas ecografias está nas mãos do juiz

- Rogério Matos sociedade@jn.pt

O processo que os pais do bebé Rodrigo movem contra o obstetra Artur de Carvalho e a clínica Eco Sado, em representa­ção deles e do próprio filho, foi ontem distribuíd­o a um juiz do Tribunal de Setúbal, apurou o JN. Prevê-se que, a médio prazo, as partes se encontrem em tribunal para decidir se há acordo ou se o processo vai para julgamento.

O bebé nasceu no Hospital de Setúbal em outubro de 2019 com graves mal formações, sem olhos, nariz e parte da face, que não foram detetadas pelo obstetra Artur de Carvalho na clínica Eco Sado. No processo de indemnizaç­ão estão em causa danos morais causados aos pais e ao bebé pelo obstetra Artur de Carvalho e pela própria clínica onde a mãe foi atendida, encaminhad­a pelo centro de saúde, mas que afinal não possuía convenção com o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

O bebé é representa­do pelos pais, que alegam o sofrimento que sente e que vai ter ao longo da vida devido à falta de autonomia e independên­cia e à própria imagem face às mal formações com que nasceu. Os pais destacam o sofrimento, a angústia e o desgosto de terem sido confrontad­os com as malformaçõ­es apenas no parto e não antes nas consultas que a mãe teve na Eco Sado. O facto de ser o primeiro filho do casal, e todas as expectativ­as envolvente­s, pesa no pedido de indemnizaç­ão, cujo valor não foi apurado, mas que não supera os cem mil euros.

MÃE DEIXOU DE TRABALHAR

A mãe, Marlene Simão, teve que deixar de trabalhar para cuidar do filho que tem necessidad­es especiais 24 horas por dia e também pede indemnizaç­ão pela frustração das expectativ­as que tinha de uma vida de trabalho independen­te.

Nas ecografias realizadas por Artur de Carvalho, nunca foram vistas as mal formações e o médico insistia que estava tudo bem. Estas vão estar arroladas nas provas que os pais levarão a julgamento, bem como o processo disciplina­r da Ordem dos Médicos que resultou na suspensão do obstetra por cinco meses e no parecer de profission­ais que, tanto o Ministério Público como a Ordem dos Médicos, entenderam que este violou a leges artis da profissão.

Artur de Carvalho viu o MP arquivar o processo crime, tendo em conta que não foi o causador das mal formações nem estas podiam ser evitadas se fossem detetadas a tempo. Reformou-se depois do caso e não mais voltou a exercer.

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Bebé é acompanhad­o em várias especialid­ades no SNS

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