Padres só serão afastados se Justiça os acusar
Presidente da CEP diz que é importante deixar investigações sobre abusos irem até ao fim
O afastamento dos padres suspeitos de abuso sexual só deverá ocorrer perante uma acusação por parte das instâncias judiciais. “Se há casos concluídos pelo Ministério Público [MP], as decisões são tomadas depois disso”, defendeu D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), no final da Assembleia Plenária deste órgão, que terminou ontem, em Fátima.
Confrontado com o facto de haver padres no ativo a serem investigados por suspeitas de abuso – a comissão independente presidida por Pedro Strecht já comunicou 16 casos ao MP –, o também bispo de Leiria-Fátima sublinhou a necessidade de deixar as instâncias judiciais fazerem o seu trabalho e de se “preservar” o segredo de justiça.
“Se há coisas dessas, têm de ser avaliadas dentro do próprio processo de investigação. Não podemos agir perante um ‘parece que é’”, afirmou, frisando que, para que haja “um bom funcionamento da Justiça”, esta “não pode ser feita na praça pública”.
“TOTAL COLABORAÇÃO”
Em declarações aos jornalistas, D. José Ornelas reiterou a promessa de “total” colaboração dos bispos com a comissão para o estudo dos abusos. Questionado sobre a informação avançada pela equipa de Pedro Strecht, segundo a qual cinco bispos não responderam ao pedido de informação, o líder da CEP assegurou que “ninguém se recusou” a testemunhar, mas que “havia um calendário definido” para que tal ocorresse “depois desta assembleia plenária”.
Assumindo que ele próprio ainda não o fez, D. José
Ornelas garante que a situação está ultrapassada com o agendamento do testemunho dos bispos em falta.
Questionado sobre as declarações de Pedro Strecht sobre a existência de “indícios de encobrimento” por parte de bispos no ativo, o presidente da CEP disse que isso é algo que lhe parece “descabido”. “É preciso perceber o que quer dizer encobrimento”, ressalvou, referindo que, perante uma denúncia, torna-se necessário “verificar a credibilidade” da mesma e trabalhar para que “as coisas levem o seu caminho, em respeito pelas normas jurídicas e canónicas”. “Não sei se a melhor forma de fazer justiça é colocar [o caso] na praça pública. Não quer dizer que não seja investigado”, alega, assumindo que “o segredo da confissão não vai ser quebrado” em investigações de abusos.