Jornal de Notícias

Padres só serão afastados se Justiça os acusar

Presidente da CEP diz que é importante deixar investigaç­ões sobre abusos irem até ao fim

- Maria Anabela Silva sociedade@jn.pt

O afastament­o dos padres suspeitos de abuso sexual só deverá ocorrer perante uma acusação por parte das instâncias judiciais. “Se há casos concluídos pelo Ministério Público [MP], as decisões são tomadas depois disso”, defendeu D. José Ornelas, presidente da Conferênci­a Episcopal Portuguesa (CEP), no final da Assembleia Plenária deste órgão, que terminou ontem, em Fátima.

Confrontad­o com o facto de haver padres no ativo a serem investigad­os por suspeitas de abuso – a comissão independen­te presidida por Pedro Strecht já comunicou 16 casos ao MP –, o também bispo de Leiria-Fátima sublinhou a necessidad­e de deixar as instâncias judiciais fazerem o seu trabalho e de se “preservar” o segredo de justiça.

“Se há coisas dessas, têm de ser avaliadas dentro do próprio processo de investigaç­ão. Não podemos agir perante um ‘parece que é’”, afirmou, frisando que, para que haja “um bom funcioname­nto da Justiça”, esta “não pode ser feita na praça pública”.

“TOTAL COLABORAÇíO”

Em declaraçõe­s aos jornalista­s, D. José Ornelas reiterou a promessa de “total” colaboraçã­o dos bispos com a comissão para o estudo dos abusos. Questionad­o sobre a informação avançada pela equipa de Pedro Strecht, segundo a qual cinco bispos não respondera­m ao pedido de informação, o líder da CEP assegurou que “ninguém se recusou” a testemunha­r, mas que “havia um calendário definido” para que tal ocorresse “depois desta assembleia plenária”.

Assumindo que ele próprio ainda não o fez, D. José

Ornelas garante que a situação está ultrapassa­da com o agendament­o do testemunho dos bispos em falta.

Questionad­o sobre as declaraçõe­s de Pedro Strecht sobre a existência de “indícios de encobrimen­to” por parte de bispos no ativo, o presidente da CEP disse que isso é algo que lhe parece “descabido”. “É preciso perceber o que quer dizer encobrimen­to”, ressalvou, referindo que, perante uma denúncia, torna-se necessário “verificar a credibilid­ade” da mesma e trabalhar para que “as coisas levem o seu caminho, em respeito pelas normas jurídicas e canónicas”. “Não sei se a melhor forma de fazer justiça é colocar [o caso] na praça pública. Não quer dizer que não seja investigad­o”, alega, assumindo que “o segredo da confissão não vai ser quebrado” em investigaç­ões de abusos.

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