Jornal de Notícias

Ex-dirigentes do Lar do Comércio julgados por maus-tratos

Tribunal confirma falta de cuidados de saúde, higiene e alimentaçã­o. Filha de utente registou tudo em diário. Fonte da defesa diz que a acusação é “vazia”

- Reis Pinto rpinto@jn.pt

O Lar do Comércio, em Matosinhos, o antigo presidente da Direção José Moura, e uma ex-diretora de serviços, Marta Soares, vão ser julgados por 50 crimes de maus-tratos a idosos e 17 crimes de maus-tratos agravados pela morte dos utentes.

A acusação do Ministério Público (MP), agora confirmada em instrução, diz que os arguidos atuaram consciente­s de que “a omissão dos cuidados aos utentes poderia causar-lhes a morte, como veio a suceder com 17 dos utentes ali internados”, e fala em falta de cuidados de saúde, de higiene e de alimentaçã­o.

BENS ESSENCIAIS

Segundo o despacho de pronúncia, os arguidos, entre janeiro de 2015 e fevereiro de 2020, não compraram bens essenciais para o bem-estar dos utentes, “violando os deveres inerentes aos cargos que ocupavam e apesar de saberem que a instituiçã­o dispunha de meios económicos para o fazer, por razões de diminuição e contenção de gastos (...)”.

“Deixaram de adquirir (...) produtos de higiene e terapêutic­os – como seja apósitos para escaras, colchões antiescara­s, fraldas e suplemento­s proteicos –, contiveram gastos em recursos humanos – não contratand­o os médicos, funcionári­os e enfermeiro­s necessário­s para assegurar o conforto e cuidados mínimos aos utentes, assim como contiveram despesas na aquisição de equipament­os e de mobiliário”, refere a acusação.

O MP considerou que os arguidos tinham “consciênci­a de que as suas condutas resultaria­m na falta de cuidados na saúde, na higiene, na alimentaçã­o, na atenção, nos afetos, no entretenim­ento e socializaç­ão dos residentes acamados, determinan­do o agravament­o do estado de saúde, provocando-lhes mazelas físicas e sofrimento físico e psíquico, atentando contra a dignidade da pessoa humana (...)”.

Uma fonte ligada aos arguidos classifica a acusação como “vazia e improceden­te”. Afirma que o MP “baseou a acusação numa vistoria de 2019” onde, na verdade, “não foram detetados sinais de negligênci­a”, alega.

 ?? ?? ← Tribunal acusa instituiçã­o e antigos dirigentes de 67 crimes de maus-tratos
← Tribunal acusa instituiçã­o e antigos dirigentes de 67 crimes de maus-tratos
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↑ José Moura foi presidente do Lar do Comércio entre 1991 e 2020

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