Juiz não quer ouvir bispos sobre padre em caso de coação sexual
Testemunhas indicadas por arguido na instrução foram recusadas por não terem assistido a crimes contra menor
O juiz de Viseu Pedro Magalhães acaba de recusar a audição de três bispos e três padres na instrução do processo em que o sacerdote Luís Miguel Costa vai tentar contrariar a acusação por dois crimes sexuais contra um menor.
A audição daquelas seis testemunhas tinha sido requerida pelo arguido. Tratavam-se do bispos D. António Luciano, de Viseu, e D. Manuel Felício, da Guarda, bem como do bispo auxiliar do Porto D. Armando Esteves Domingues. Os três padres arrolados como testemunhas exercem funções da diocese viseense.
As testemunhas tinham sido arroladas para que atestassem a alegada idoneidade e o caráter do arguido, mas o juiz de instrução criminal de Viseu indeferiu o pedido da defesa, argumentando que as mesmas não tinham interesse para esta fase do processo, por não terem presenciado os factos que constam da acusação.
Fonte próxima do padre Luís Miguel critica a decisão do juiz, dizendo que este “não quer ouvir a verdade dos factos e apurar o comportamento e a personalidade do arguido”. “Infelizmente, não quer conhecer os factos para descobrir a verdade. Há um preconceito em relação ao arguido”, sustenta.
“PSIU. QUERO CHUPAR-TE”
O arranque da audiência da instrução está agendado para dia 11 de maio, às 09.30 horas. No final da instrução, uma fase processual que é facultativa, o juiz vai decidir se o caso segue para julgamento e, neste caso, em que termos.
O padre é acusado de crimes de coação sexual agravada, na forma tentada, e aliciamento de jovem, de 14 anos, para fins sexuais. No requerimento de abertura da instrução, o pároco, de 46 anos, nega as acusações e diz que os crimes de que lhe imputam são “notoriamente falsos e deploráveis”.
Alegou que as provas apresentadas pelo Ministério Público (MP) “baseiam-se unicamente” nas declarações do menor, que se queixa de ter sido assediado, e nas mensagens enviadas para o jovem, que o padre sustenta terem sido “manifestamente descontextualizadas”.
As suspeitas remontam ao dia 27 de março de 2021 e ocorreram numa quinta em São João de Lourosa, no concelho de Viseu. Segundo a acusação, o sacerdote agarrou e tentou beijar à força o jovem, hoje com 15 anos, junto a uma casa de banho.
Além disso, enviou à vítima várias mensagens de texto (SMS) de teor sexual. “Psiu. Vem ter comigo. Amor. Psiu. Quero chupar-te”, foram algumas das 13 SMS enviadas ao longo de duas horas.