Jornal de Notícias

“Aquilo que temos como adquirido pode acabar de repente”

Músico, DJ e produtor regressa aos álbuns com “Balsame”. Um tratado de “música eletrónica com alma orgânica”

- POR Patrícia Naves cultura@jn.pt

Nem a pandemia parou Bruno Cardoso. Entre colaboraçõ­es, singles, EP e remisturas, o produtor esteve sempre ativo e entra nesta fase do Mundo com um disco novo, “Balsame”: uma amálgama de culturas, misturadas num bálsamo de dança, catarse e mensagens. Bruno é Xinobi desde 2014, depois da passagem pelos Vicious Five e da dupla com Moullinex. Nesta nova vida, mais solitária, as viagens e as fraturas da sociedade são influência­s claras num artista que “absorve tudo”. O JN falou com o DJ a propósito do seu novo disco.

Fale-nos sobre “Balsame” e a mensagem que pretende passar.

É um disco Xinobi, de música eletrónica com alma orgânica, e com uma mensagem simples mas que muitas vezes nos esquecemos: procurar um mundo melhor e curar um mundo tão triste como o que temos agora, com tantos problemas que parece que se continuam a agravar.

Pretende ser um bálsamo nas pessoas? O som foi construído com essa lógica, mais espiritual, zen?

Sim, de alguma maneira. Não digo superzen, porque há momentos de catarse que não são associados a uma coisa calma, mas de algo que nos faça pensar e ajude nos momentos duros.

O single “La tormenta”, com Mariana Bragada (ou Meta_), tem também uma clara mensagem, em relação às mulheres.

Sim, é uma ilustração mesmo. Porque é a história de uma mulher que sobreviveu a uma tempestade, onde podes incluir todo o patriarcad­o, o machismo, as desigualda­des que ainda existem, a começar pelas diferenças de ordenados. E é sobre uma mulher que atravessa uma tempestade para se erguer do outro lado, ficando de pé.

Como funciona o processo destas colaboraçõ­es? Compõe já a pensar num cantor, ou depois de completo pensa “este ficava perfeito aqui”?

Tento não pensar em demasia. A Mariana, por exemplo, apareceu-me como que do nada, mas tinha alguns instrument­ais em que senti que ela ficaria bem. Mas ela enviou-me tantas ideias que acabou por ficar toda uma outra música.

Como é que um produtor e DJ viveu aquele início da pandemia, sem eventos, sem trabalho?

Foi duro, obviamente. Foi reequacion­ar a vida, perceber quanto tempo iria durar para saber se teria de mudar de estratégia, de profissão, ou se as coisas poderiam permitir o regresso da música ao vivo, em comunhão. Achei que iria demorar dois ou três anos, vendo por pandemias anteriores, e apesar do choque inicial senti que iríamos superar.

Apesar do sufoco que a cultura viveu, os seus agentes, músicos, técnicos pareceram mais unidos do que nunca. Sentiu isso?

Sim, muito. Eu próprio tive muita oferta de ajuda, e depois houve a fase dos streamings, com ligações a coletas de bens ou de fundos. Parecendo que não, isso ajudou muita gente.

E agora como é regressar aos palcos, sentir o público? Há uma euforia no ar ou as pessoas ainda estão contidas?

Estamos a viver aquele momento de as pessoas terem percebido que o que tinham como adquirido, viver a vida de certa maneira, ir a concertos, pode de repente acabar. Há um feeling no ar e espero que perdure. Outra coisa importante: havia muito aquilo de, “eh pá, eu, pagar para ir a concertos de bandas portuguesa­s, não”, e agora sinto que se percebeu que as pessoas precisam de ganhar a vida, que a música é um investimen­to.

“Balsame” tem vários sons do Mundo. Esteve na Índia, fala muito das suas viagens. Vai buscar inspiração a outros lugares? Constantem­ente. Estou sempre a absorver música, por onde quer que passe. Este disco tem muito do México, da Turquia, de Portugal também mas sim, procuro sempre contacto com culturas locais, artistas e absorvo tudo. E depois traduzo de alguma maneira na minha música.

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