Novas unidades de cuidados para reduzir violência obstétrica
Investigadoras da Escola Superior de Enfermagem do Porto vão entregar iniciativa legislativa no Parlamento
SAÚDE O modelo já existe por quase toda a Europa e o objetivo de um grupo de investigadoras da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP) é adaptá-lo à realidade nacional, através da criação de unidades de cuidados na maternidade que permitam um acompanhamento integrado da mulher ao longo do ciclo reprodutivo, contribuindo para diminuir os casos de violência obstétrica e de mortalidade materna.
Ana Paula Prata, investigadora e professora na ESEP, adianta que o próximo passo será a implementação de um projeto-piloto, mas ainda falta legislação nesta área. “Temos um projeto de lei feito que vamos entregar na Assembleia da República para abertura destas unidades”, avança a responsável, lembrando que, “em termos de legislação, não há nada que diga quem são os profissionais de saúde que podem prestar cuidados à mulher no parto, e é preciso que se defina isso”.
A investigadora considera que este é o momento certo para lutar pela abertura destas unidades, “porque temos muita investigação, temos o apoio da comunidade e já existem em quase toda a Europa. E temos as mulheres que, claramente, nos dizem que não estão satisfeitas e querem outro tipo de cuidados”. Estas unidades podem ser criadas na comunidade ou dentro de hospitais, estando vocacionadas para prestar cuidados a mulheres que possuem um baixo risco de complicações na vida reprodutiva.
“Precisamos de mudar o paradigma de cuidados na gravidez e no parto. Temos cada vez mais mulheres insatisfeitas com as experiências de parto. Queixam-se que não são ativas, não lhes é dada a oportunidade para tomar decisões e são vítimas de violência obstétrica”, descreve Ana Paula Prata, que advoga “experiências positivas de parto”.
GESTÃO POR ENFERMEIROS
A gestão das unidades de cuidados na maternidade ficaria a cargo de enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica, apoiados por um grupo consultivo, sendo “prestados todos os cuidados, desde o momento em que a mulher fica grávida até ao pós-parto, com a preparação para o parto, cuidados na amamentação, apoio pós-parto”.
Assim, a mulher tem continuidade na assistência, deixando de ser preciso acorrer a várias unidades de saúde. “É um modelo biopsicossocial, em que a pessoa está no centro dos cuidados. Deixa de ser paciente e passa a ser pessoa”, conclui.
“São cuidados centrados na mulher, no casal e na família, de acordo com as suas necessidades”