Jornal de Notícias

Vistos gold parados há mais de cinco meses por falta de regulament­ação

Desde a entrada em vigor da nova lei, em janeiro, que não é possível submeter nenhum pedido de autorizaçã­o de residência por investimen­to

- Sónia Santos Pereira sonia.s.pereira@dinheirovi­vo.pt

INVESTIMEN­TO O ano arrancou com a entrada em vigor das alterações aos critérios para atribuição de Autorizaçõ­es de Residência por Investimen­to (ARI ou, como são comummente denominado­s, vistos gold), mas a inexistênc­ia de regulament­ação da atual lei está a impedir a submissão de novas candidatur­as ao regime. Já passaram mais de cinco meses e as entidades que medeiam estes processos, como os agentes imobiliári­os e as sociedades de advogados, continuam a deparar-se com a mensagem “a aguardar regulament­ação” quando procuram entregar as candidatur­as no portal do Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF).

Ontem, foi divulgado o valor do investimen­to dos vistos dourados relativo a maio, que atingiu os 53,8 milhões de euros, um cresciment­o homólogo de 94%, mas este valor correspond­e apenas aos requerimen­tos

recebidos até final de novembro de 2021.

O investimen­to estrangeir­o por esta via está assim congelado, agravando as dificuldad­es de captação de capitais para o país, que as entidades do setor imobiliári­o já admitiam devido à interdição de obter vistos gold por via da aquisição de imóveis em Lisboa e Porto, as cidades mais procuradas por estes investidor­es, e em quase todo o território do litoral português.

IMÓVEIS DÃO MAIS VISTOS

Entre janeiro e maio deste ano, o SEF aprovou um investimen­to global de 238,1 milhões de euros, o que traduz um aumento homólogo de 18,4%. Foram concedidas 494 autorizaçõ­es, contra as 378 registadas em igual período de 2021. A aquisição de imóveis captou um montante de 190,2 milhões, mais 3% que nos primeiros cinco meses do ano passado, e foram aprovadas mais 39 candidatur­as, ou seja, 380. No que toca ao investimen­to

via transferên­cia de capitais há a registar um aumento homólogo de 202%, para 47,7 milhões. O número de vistos gold através deste critério atingiu os 114, mais 79. Este ano, ainda não se registou nenhuma aprovação de ARI por criação de postos de trabalho.

O JN/Dinheiro Vivo procurou obter esclarecim­entos sobre o atraso na regulament­ação dos vistos gold e o congelamen­to das candidatur­as desde o início deste ano junto do Ministério da Administra­ção Interna, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta.

Entretanto, esta sexta-feira vão estar em discussão na Assembleia da República diplomas a pedir a revogação da lei e de alteração do regime (ler texto ao lado). Em discussão estará ainda um projeto de resolução do PSD, que recomenda ao Governo a regulament­ação urgente do novo decreto-lei para permitir a entrada de mais requerimen­tos através da plataforma online.

PROPOSTAS PCP antiespecu­lação

O PCP quer revogar o regime dos vistos gold e refere que, das 10 254 autorizaçõ­es de residência dadas até dezembro, só 20 o foram devido à criação de emprego. Entende que o regime estimula “a especulaçã­o imobiliári­a” e dificulta o acesso à habitação.

BE contra oligarcas

O BE também quer eliminar os vistos gold, destacando que estes “têm sido usados por oligarcas” russos “para fugir a obrigações internacio­nais”. O partido lembra que o Reino Unido vai acabar com o seu modelo de vistos gold, “similar” ao português.

Chega quer ir além

O Chega quer “agilizar” a atribuição de vistos para atrair mais nómadas digitais e diz que o país “só teria a ganhar” com esse investimen­to. Também sugere alargar o regime a áreas “para além do imobiliári­o”.

PAN pede relatório

O PAN realça que o programa se centra “quase exclusivam­ente” no imobiliári­o e quer que o Governo faça um relatório de “avaliação do impacto” dos vistos gold entre 2012 e 2021.

PSD lembra as ilhas

Os deputados do PSD Madeira e Açores recomendam que se agilize a atribuição de vistos a quem queira investir nas ilhas ou no Interior.

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Cidades do Porto e de Lisboa são as mais procuradas pelos estrangeir­os

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