Jornal de Notícias

“Há festa na aldeia”

- Paula Teles POR Especialis­ta de mobilidade urbana

Quando o mês de junho se inicia, sinto o aproximar das festas dos santos populares, e com elas surgem novas e múltiplas mobilidade­s no pulsar das aldeias, vilas e cidades por este Portugal fora.

E comparo esse tempo bonito e alegre, com o primeiro filme de Jacques Tati, quando se estreava na longa-metragem memorável de 1949 “Há festa na aldeia”. Do mesmo modo que no filme, o centro da festa era a chegada dos feirantes à praça, com as suas roulottes, carroças, carrosséis, lotarias e fanfarras, descrevia-se toda a alegria da aldeia perante este ambiente mágico. As pessoas chegam da cidade e muitos emigrantes regressam nesta altura. Neste período, o espaço público marca o epicentro dos encontros e dos convívios esperados, das melodias apaixonada­s que se soltam, das rapsódias entre coretos, das farturas e dos doces que nos esperam pelas ruas em movimento. E, nos bairros, o espaço público é resgatado aos automóveis sem contestaçã­o, porque o modo de mobilidade escolhido é o andar a pé. Na rua de sons e cheiros únicos, saboreiam-se os petiscos tradiciona­is e convive-se entre sardinhas e danças populares!

Nunca o espaço público é tão vivido durante o ano, com a apropriaçã­o das ruas e ruelas coloridas por um frenesim incomparáv­el, como se saíssemos de casa, loucamente, a primeira vez depois do inverno.

E nestas alturas as crianças e os jovens, por algumas horas, esquecem os ecrãs e a internet, o Facebook e o Instagram, porque nesses lugares sentir festa é ter “espaço” e, este, torna-se mais importante que o “tempo”. Este é o espaço público dos meus sonhos.

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