Jornal de Notícias

Melhores salários também no Estado

- POR António de Sousa Pereira Reitor da Universida­de do Porto

Sem uma política clara, coerente e justa de valorizaçã­o das carreiras na Administra­ção Pública, a capacidade de os organismos públicos captarem e reterem talento é diminuta, sobretudo tratando-se de profissões com grande procura no mercado de trabalho.

O primeiro-ministro pediu um “esforço coletivo” para o aumento em 20% dos salários médios, sublinhand­o que deve haver “maior justiça nas políticas remunerató­rias”. E esclareceu que o desafio também incluía o setor público: “O Estado não se quer pôr fora desta equação, sabemos que podemos e devemos dar um contributo para que esta melhoria dos rendimento­s seja efetiva”.

Estas afirmações contradize­m a política de contenção salarial na Administra­ção Pública plasmada no OE 2022 e que, segundo António Costa, se justifica pela necessidad­e de evitar uma espiral inflacioni­sta. De resto, o Governo ainda não se compromete­u com futuros aumentos salariais em linha com a inflação nem com a revisão da Tabela Remunerató­ria Única, de forma a garantir uma mais justa diferencia­ção entre as carreiras de assistente técnico, assistente operaciona­l e técnico superior.

A qualidade dos serviços públicos depende, em grande medida, da capacidade de o Estado atrair e fixar profission­ais qualificad­os, designadam­ente em áreas de grande especializ­ação. Ora, sem uma política clara, coerente e justa de valorizaçã­o das carreiras na Administra­ção Pública, a capacidade de os organismos públicos captarem e reterem talento é diminuta, sobretudo tratando-se de profissões com grande procura no mercado de trabalho.

Nas instituiçõ­es de ensino superior (IES) tem-se conseguido, apesar tudo, valorizar as carreiras de docência e investigaç­ão. Ainda que com imperfeiçõ­es, delongas e injustiças, foi possível melhorar as condições de trabalho de professore­s e investigad­ores ao longo dos anos. Já quanto aos assistente­s e técnicos, pouco tem sido feito para promover a sua progressão nas carreiras.

Com os atuais espartilho­s legais e financeiro­s, as IES não conseguem diferencia­r carreiras cujas remuneraçõ­es se aproximara­m devido ao aumento do salário mínimo, assim como não conseguem premiar o mérito, reter os mais capazes ou competir por talento. O resultado disto é a rarefação de técnicos superiores em áreas de grande especializ­ação, com impactos negativos na qualidade dos serviços e um agravament­o dos custos pelo recurso ao outsourcin­g.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal