Cavaco Silva elege a economia como ponto negro da democracia
Ex-presidente da República considera que Portugal não conseguiu lidar bem com as crises económicas e que isso atrasou o país
POLÍTICA O ex-presidente da República Cavaco Silva apontou a economia como o ponto mais baixo dos 48 anos de democracia em Portugal. Durante a intervenção nas I Conferências de Fafe, onde são evocados todos os presidentes da República desde 1974, o ex-governante foi convidado a fazer o retrato do período democrático. “A nossa democracia fica menos bem no que diz respeito à Economia. Encontramos mais momentos baixos do que altos”, aludindo às três crises financeiras, de 1978, 1983 e 2011 que levaram à intervenção do Fundo Monetário Internacional e a uma desestruturação da economia que fez com que Portugal, “nas últimas duas décadas, fosse ultrapassado em PIB per capita pelos países de Leste que integram a União Europeia (UE)”.
Durante a alocução, Cavaco Silva destacou os progressos do país em diversas áreas, nomeadamente com a criação do Serviço Nacional de Saúde, a democratização do acesso à educação, o papel do Poder Local no desenvolvimento do território e a adesão de Portugal à CEE em 1986. Contudo,
Cavaco não deixou de sublinhar críticas ao rumo que o país tem levado. “Nos últimos anos houve uma degradação do SNS e é preciso uma reconversão. A qualidade da educação, no Básico e no Secundário, tem vindo a diminuir porque não tem conseguido captar professores”, exemplificou.
Sobre o futuro, Cavaco Silva alertou para a necessidade de “aplicar de forma mais inteligente as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência” porque, defende, “falta concretizar o D de desenvolvimento” enquanto os “salários continuarem baixos e os jovens de talento procurarem outros países, fruto do crescimento medíocre da economia portuguesa nos tempos de democracia”.
Num sublinhado final, onde evitou o contacto com os jornalistas, Cavaco Silva manifestou esperança que a UE “ganhe força acrescida na senda internacional” após a guerra na Ucrânia. “O mundo ocidental não pode hesitar nas sanções à Rússia e na defesa da Ucrânia até à sua integração na UE. É fundamental que os ‘Putins’ deste Mundo não voltem a ter a perceção que as democracias ocidentais são frágeis”, concluiu.