Jornal de Notícias

Salários baixos e mais temporário­s no setor automóvel

Estudo da OIT pedido pelo Governo recomenda adaptar lay-off para dar flexibilid­ade a uma indústria em risco

- Maria Caetano maria.s.caetano@dinheirovi­vo.pt

ESTUDO O setor automóvel nacional está “aprisionad­o” em segmentos de baixo valor acrescenta­do, e vem arrastando para baixo também a produtivid­ade, salários e a qualidade do emprego. A Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) dá conta já de uma década de níveis de produtivid­ade e remuneraçõ­es estagnadas numa indústria que, hoje, se vira cada vez mais para as agências de trabalho temporário para laborar. O retrato está no estudo “Conduzir a mudança: o futuro do trabalho no setor automóvel português”, encomendad­o pelo Governo e apresentad­o ontem num evento que contou com a presença do da ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho.

Uma aposta na manutenção de baixos salários e na flexibiliz­ação das relações laborais não impedirá Portugal de perder um lugar que se mantém periférico na cadeia automóvel europeia, alerta a OIT, que prescreve uma receita de políticas públicas. Destacam-se incentivos ao desenvolvi­mento de inovação, a melhoria das ligações ferroviári­as com Espanha, ou ainda uma estratégia orientada para produtos de maior complexida­de. Mas, também, limitações ao uso de bancos de horas e a proposta de recurso a lay-off para minimizar o recurso à contrataçã­o a prazo enquanto resposta para os problemas da indústria.

25% DE TEMPORÁRIO­S

Um dos dados avançados no estudo aponta para que os trabalhado­res recrutados a partir de agências de trabalho temporário represente­m no setor “até um quarto da força de trabalho, de acordo com os dados fornecidos pelos entrevista­dos”.

Esta é uma constataçã­o que a agência da ONU não faz com informação administra­tiva, dando conta de “lacunas de dados cruciais que devem ser colmatadas”, mas que atestou em dezenas de entrevista­s realizadas com gestores e representa­ntes dos trabalhado­res ao longo de um ano. A contrataçã­o não permanente de trabalhado­res mais jovens também é maior neste setor do que no conjunto da economia (76% contra os 63% a nível nacional).

Mas uma das principais caracterís­ticas do setor é a redução dos custos com salários, com a OIT a identifica­r uma estratégia de desvaloriz­ação das remuneraçõ­es quase exclusiva em contexto europeu. A percentage­m dos custos com o pessoal na produção, refere, “tem vindo a diminuir constantem­ente em Portugal, de 13,7% em 2005 para 9,8% em 2018, enquanto o valor acrescenta­do por trabalhado­r tem aumentado”.

O estudo adianta que “a supressão salarial é uma caracterís­tica que distingue Portugal da maioria dos seus concorrent­es diretos, com exceção da Espanha, que registou uma evolução semelhante, embora a um nível salarial substancia­lmente mais elevado”.

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OIT pede políticas públicas para o desenvolvi­mento do setor

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