Salários baixos e mais temporários no setor automóvel
Estudo da OIT pedido pelo Governo recomenda adaptar lay-off para dar flexibilidade a uma indústria em risco
ESTUDO O setor automóvel nacional está “aprisionado” em segmentos de baixo valor acrescentado, e vem arrastando para baixo também a produtividade, salários e a qualidade do emprego. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) dá conta já de uma década de níveis de produtividade e remunerações estagnadas numa indústria que, hoje, se vira cada vez mais para as agências de trabalho temporário para laborar. O retrato está no estudo “Conduzir a mudança: o futuro do trabalho no setor automóvel português”, encomendado pelo Governo e apresentado ontem num evento que contou com a presença do da ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho.
Uma aposta na manutenção de baixos salários e na flexibilização das relações laborais não impedirá Portugal de perder um lugar que se mantém periférico na cadeia automóvel europeia, alerta a OIT, que prescreve uma receita de políticas públicas. Destacam-se incentivos ao desenvolvimento de inovação, a melhoria das ligações ferroviárias com Espanha, ou ainda uma estratégia orientada para produtos de maior complexidade. Mas, também, limitações ao uso de bancos de horas e a proposta de recurso a lay-off para minimizar o recurso à contratação a prazo enquanto resposta para os problemas da indústria.
25% DE TEMPORÁRIOS
Um dos dados avançados no estudo aponta para que os trabalhadores recrutados a partir de agências de trabalho temporário representem no setor “até um quarto da força de trabalho, de acordo com os dados fornecidos pelos entrevistados”.
Esta é uma constatação que a agência da ONU não faz com informação administrativa, dando conta de “lacunas de dados cruciais que devem ser colmatadas”, mas que atestou em dezenas de entrevistas realizadas com gestores e representantes dos trabalhadores ao longo de um ano. A contratação não permanente de trabalhadores mais jovens também é maior neste setor do que no conjunto da economia (76% contra os 63% a nível nacional).
Mas uma das principais características do setor é a redução dos custos com salários, com a OIT a identificar uma estratégia de desvalorização das remunerações quase exclusiva em contexto europeu. A percentagem dos custos com o pessoal na produção, refere, “tem vindo a diminuir constantemente em Portugal, de 13,7% em 2005 para 9,8% em 2018, enquanto o valor acrescentado por trabalhador tem aumentado”.
O estudo adianta que “a supressão salarial é uma característica que distingue Portugal da maioria dos seus concorrentes diretos, com exceção da Espanha, que registou uma evolução semelhante, embora a um nível salarial substancialmente mais elevado”.