O Papa e a resistência ao Vaticano II
Entre muitas, uma das preocupações do Papa Francisco é efetivar a reforma introduzida pelo Concílio Vaticano II mais de meio século depois da sua celebração.
Na semana passada, no final de um encontro com bispos e sacerdotes da Sicília, manifestou essa sua apreensão. Começou por os questionar como estava a ser implementado entre eles o Vaticano II, nomeadamente a reforma litúrgica. Questionou-os mesmo se usavam os trajes típicos de outros tempos, com as suas rendinhas e lacinhos. E admirou-se que ainda se usassem determinados paramentos, sessenta anos depois do Concílio. Recomendou-lhes alguma “atualização também na arte litúrgica, na moda litúrgica!”.
Curiosamente, não são os clérigos com mais idade os maiores adeptos das “rendinhas da avó”, como lhe chamou o Papa. São os mais jovens. Os mais idosos são aqueles que viveram com maior intensidade a revolução que significou para a Igreja o Concílio. Os mais novos foram formados em tempos de alguma desconfiança conciliar, marcados por movimentos restauracionistas. O problema é que essa orientação não se está a sentir só ao nível da liturgia, com o desenterrar dos arcazes, vestimentas de outros tempos. É também ao nível pastoral e eclesial que se sentem esses retrocessos.
O sítio “Religión Digital”, a propósito da assembleia final do processo sinodal em Espanha, no passado sábado, noticiava que os sacerdotes com menos de 45 anos foram os que menos se envolveram nessa dinâmica. A razão apontada é o facto de para eles o “Concílio de João XXIII e Paulo VI” ser algo longínquo. Foram formados por outras dinâmicas, menos reformistas, durante o pontificado de João Paulo II, “a quem muitos consideram o ‘seu’ Papa”.
Não está a ser fácil para o Papa Francisco descongelar o Vaticano II. Esta é uma tarefa que sobrará, seguramente, para o seu sucessor.