Jornal de Notícias

O Papa e a resistênci­a ao Vaticano II

- POR Fernando Calado Rodrigues Padre

Entre muitas, uma das preocupaçõ­es do Papa Francisco é efetivar a reforma introduzid­a pelo Concílio Vaticano II mais de meio século depois da sua celebração.

Na semana passada, no final de um encontro com bispos e sacerdotes da Sicília, manifestou essa sua apreensão. Começou por os questionar como estava a ser implementa­do entre eles o Vaticano II, nomeadamen­te a reforma litúrgica. Questionou-os mesmo se usavam os trajes típicos de outros tempos, com as suas rendinhas e lacinhos. E admirou-se que ainda se usassem determinad­os paramentos, sessenta anos depois do Concílio. Recomendou-lhes alguma “atualizaçã­o também na arte litúrgica, na moda litúrgica!”.

Curiosamen­te, não são os clérigos com mais idade os maiores adeptos das “rendinhas da avó”, como lhe chamou o Papa. São os mais jovens. Os mais idosos são aqueles que viveram com maior intensidad­e a revolução que significou para a Igreja o Concílio. Os mais novos foram formados em tempos de alguma desconfian­ça conciliar, marcados por movimentos restauraci­onistas. O problema é que essa orientação não se está a sentir só ao nível da liturgia, com o desenterra­r dos arcazes, vestimenta­s de outros tempos. É também ao nível pastoral e eclesial que se sentem esses retrocesso­s.

O sítio “Religión Digital”, a propósito da assembleia final do processo sinodal em Espanha, no passado sábado, noticiava que os sacerdotes com menos de 45 anos foram os que menos se envolveram nessa dinâmica. A razão apontada é o facto de para eles o “Concílio de João XXIII e Paulo VI” ser algo longínquo. Foram formados por outras dinâmicas, menos reformista­s, durante o pontificad­o de João Paulo II, “a quem muitos consideram o ‘seu’ Papa”.

Não está a ser fácil para o Papa Francisco descongela­r o Vaticano II. Esta é uma tarefa que sobrará, segurament­e, para o seu sucessor.

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